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Teatro
Espetáculos em São Paulo revisitam obra de Beckett
A atriz Ana Kfouri encena duas peças baseadas em textos do autor irlandês
Também em cartaz, 'Tríptico Samuel Beckett', de Roberto Alvim, mostra uma mulher em três idades
A atriz e diretora Ana Kfouri conta que se lançou de forma intuitiva no universo de Samuel Beckett (1906-1989).
Há cerca de 30 anos, quando ela dirigiu "O Gordo e o Magro Vão para o Céu", uma peça do escritor norte-americano Paul Auster inspirada na obra-prima de Beckett, "Esperando Godot", buscava entender sem muita análise a estrutura formal mínima e a condução não psicológica que o autor irlandês, um dos maiores do século 20, dava aos personagens.
Na sexta, Kfouri estreia sua "Ocupação Beckett" como uma estudiosa que dedicou uma vida ao teatro. Porém, a bagagem adquirida não a afasta de sua primeira incursão no mundo beckettiano.
Sua ocupação também trafega no campo da irracionalidade. É composta por dois solos protagonizados por ela, criados a partir de obras de Beckett: a adaptação do livro "Primeiro Amor", dirigida por Antonio Guedes, e "Moi Lui", peça de Isabel Cavalcanti inspirada no romance "Molloy".
Beckett não desejava estabelecer um diálogo tradicional com o espectador. "Ele lida com a fala entendida como potência e não como comunicação", explica Kfouri.
Para o diretor Roberto Alvim, em cartaz com "Tríptico Samuel Beckett", o dramaturgo instaura o fim do jogo do sentido. "Através dele, mergulhamos no vazio e descobrimos sua estranha beleza em palavras que não nos dizem nada, mas proporcionam a experiência do indizível.".
"Primeiro Amor", que abre a ocupação, é uma história sobre o encontro de um homem com o amor. A peça enfoca texto e atuação com auxílio de projeções que são utilizadas como iluminação, com movimentos lentos de cores e letras se desfazendo.
Já Alvim instaura o jogo cênico sobretudo por meio das vozes das atrizes. A peça acontece no espaço mental de uma mulher em três idades distantes e se apoia no texto para instigar o público a construir suas imagens.