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Crítica - Música erudita

Com oscilações, pianista apresenta variações sobre canção de protesto

SIDNEY MOLINA CRÍTICO DA FOLHA

Na véspera dos 50 anos do golpe de 1964, a Osesp e o Instituto Vladimir Herzog levaram à Sala São Paulo a pianista americana Ursula Oppens, a quem Frederic Rzewski dedicou suas 36 variações sobre o tema "O Povo Unido Jamais Será Vencido" (1975).

A canção chilena que serve de base à obra --com texto do grupo Quilapayún e música de Sergio Ortega (1938-2003)-- foi composta em junho de 1973, apenas três meses antes do golpe que derrubou o presidente Salvador Allende (1908-73).

O tema em modo menor teria agradado a Brahms (1833-97): há uma marcha inicial, seguida por uma seção em que a harmonia navega por quartas; daí vem uma breve transição que deságua no famoso refrão, compatível com a volta da marcha.

É bonito demais para ser verdade, e algo na melodia parece antecipar as dores do porvir, os descompassos entre palavra e afeto.

Rzewski organiza a obra em seis ciclos de seis variações cada um. Como nas "Variações Goldberg", de Bach, e no jazz, o tema é tocado no início e repetido no final.

O primeiro ciclo leva de Brahms a Schoenberg (1874-1951); o segundo, de Schoenberg a Stockhausen (1928-2007); o terceiro, do folclore ao jazz; no quarto o romantismo volta, mas tudo parece se perder no quinto, com repetições minimalistas e a citação obsessiva de uma canção de Brecht (1898-1956); as variações finais são um resgate de tudo.

Para abrir o concerto, a escolha das miniaturas do amazonense Claudio Santoro (1919-89) foi certeira.

Aos 70 anos, Ursula Oppens tem rara disposição para aprender músicas novas e saiu-se bem nas peças de Santoro, tocadas com som bonito e domínio estilístico.

Os 50 minutos de Rzewski foram enfrentados com esforço e algumas oscilações: faltou clareza e distinção, qualidades especialmente importantes diante de tanta complexidade. Mas o mais importante era ela estar ali, naquele dia, tocando aquela peça.

Também foi impossível não notar a quantidade enorme de celulares ligados na plateia, todos em pleno uso de suas "smart" funções. É outra luta que continua, a de enfrentar o olho na tela com a graça da escuta.


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