Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Crítica Documentários/É Tudo Verdade

Registro dos protestos de junho não escapa da estética televisiva

'20 Centavos', de Tiago Tambelli, é pouco ambicioso e se perde num mosaico de imagens sem fio condutor

ELEONORA DE LUCENA DE SÃO PAULO

As manifestações de junho do ano passado, que surpreenderam e paralisaram o país, ainda carecem de uma avaliação mais profunda.

Após a vitória na conquista da redução no preço da passagem de ônibus, seus desdobramentos são incertos, especialmente neste ano eleitoral.

Passeatas-monstro, violência policial, avanço de black blocs, depredações: tudo que eclodiu de forma inédita em décadas talvez ainda precise de tempo de decantação.

"20 Centavos", documentário de Tiago Tambelli, tenta entrar nesse debate. Mas o resultado fica muito aquém da dimensão do protesto.

O média-metragem faz uma colagem convencional das imagens daqueles dias de perplexidade, entusiasmo e tensão. As cenas são filmadas principalmente do chão, no meio da massa. Alguns depoimentos de personagens sem identificação aparecem eventualmente.

As avaliações são difusas: atacam o capitalismo, os políticos, o sistema de transporte, a falta de voz. Não chegam a dar um norte para a narrativa. É sabido que o próprio movimento oscilou entre esquerda e direita e produziu um conjunto disforme, especialmente se visto de uma grande angular.

Mas de uma obra se espera mais. O filme se deixa enredar nessa dinâmica e se perde na reprodução de imagens que fazem eco ao exibido torrencialmente pela TV.

Apesar de tratar da violência policial, gasta longos minutos expondo a tentativa de invasão da Prefeitura de São Paulo e as depredações no centro da cidade --o ápice dos "vândalos".

Sem um fio condutor, o mosaico de Tambelli por vezes parece perdido, sem saber para onde ir, o que mostrar para além do que já vimos.

O som direto das manifestações é cortado por batidas cardíacas em momentos de tensão --um recurso manjado. Uma boa cena acontece com a lembrança de música de Sabotage ("Respeito É pra Quem Tem"). É a vez da periferia, afinal.

CONTEXTO

Numa frágil preocupação com contexto, o documentário mostra o metrô lotado --mas não tão absurdamente cheio como acontece de fato nas horas de pico na Sé ou na linha Amarela. A realidade é bem pior, basta lembrar dos casos de estupro revelados há pouquinho.

É bom que seja feito um filme no calor dos acontecimentos; vale pelo registro. Mas ele poderia ser mais ambicioso e escapar da estética televisiva.

A revolta no Egito e a crise da Grécia, por exemplo, já provocam produções um pouco mais densas. Antes, o protesto antiglobalização em Gênova também gerou filme menos tradicional.

O cineasta tenta amarrar uma avaliação colocando rápidos áudios de discursos de Jango e Getúlio Vargas ao fundo das imagens da manifestação em Brasília que cercou o Congresso.

É pouco. Empilhar imagens assim é menos do que o necessário para engrossar o debate sobre as jornadas de junho de 2013.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página