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Crítica - Comédia

Com sutileza, comédia receita amor contra depressão divina

NELSON DE SÁ DE SÃO PAULO

Deus liga pedindo horário, chega para a sessão e, depois de discutir o preço, avisa à terapeuta infantil Ana que está deprimido e vai acabar com tudo. Com a humanidade. Ela só tem aquela hora para convencê-lo do contrário.

O que se segue em "Meu Deus!" tem alguma relação com o Velho Testamento, por exemplo, remete a Jó e à crueldade de Deus com suas crianças, o que iniciou a depressão. Mas é sobretudo uma comédia dramática.

Anat Gov, autora que morreu há pouco mais de um ano, fez carreira com comédias populares em Tel Aviv, centro do teatro israelense. "Meu Deus!" estreou em 2008, somou 230 apresentações e agora corre o mundo.

Com piadas simples, quase lugar-comum, sobre religião e psicologia, seu foco é outro, no fundo: a família, a relação de mãe e filho, sublinhada por outro personagem: o filho autista de Ana, que nunca a chamou de mãe.

A questão é declarada desde logo com tiradas como o anúncio pela psicóloga de que não poderia analisá-lo, porque ele não tem mãe. Também não faltam anedotas sobre mães judias.

O melhor está na facilidade com que Irene Ravache, atriz de forte empatia que faz Ana, salta da ironia para a compaixão e até dor contida em sua dedicação ao filho, cujas entradas pontuais são recebidas amorosamente.

A escolha de Dan Stulbach para Deus reforça a imagem do amor como saída para a depressão. Relativamente jovem, em contraste com o que acontecia na montagem argentina, o que recebe de Ana é carinho quase maternal.

As caracterizações, clichês de psicólogas e de Deus, já vêm do texto com intuito cômico e são apresentadas com precisão por Ravache e Stulbach. Também Pedro Carvalho, o filho, é eficiente.

Sem marca definida em cenografia ou música, que remetem às comédias dramáticas costumeiras em São Paulo, a mão do diretor Elias Andreato é sentida na complexidade discreta das interpretações dos protagonistas.

Registre-se que, embora aparente pouco de controverso, "Meu Deus!" fez carreira marcada por questionamentos em Israel. Gov se declarou contra apresentações na Cisjordânia, levando a protestos diante do teatro e na plateia.


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