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Crítica Documentário/É Tudo Verdade

Animação sobre Noam Chomsky atira espectador num labirinto

CÁSSIO STARLING CARLOS CRÍTICO DA FOLHA

O que uma animação realizada por Michel Gondry estaria fazendo num festival de documentários?

Afinal, os filmes mais conhecidos do diretor francês, um legítimo herdeiro do cinema-imaginário do pioneiro Georges Méliès, parecem preferir o avesso daquilo que chamamos de "realidade".

"O Homem que É Alto É Feliz?", pergunta, no modo nonsense habitual de Gondry, o título de seu mais recente trabalho, que ainda traz no subtítulo original uma descrição de duplo sentido: "Uma conversa animada com Noam Chomsky".

Animada, claro, porque cheia de entusiasmo, mas também porque representada quase na íntegra por meio de desenhos, intervenções gráficas e outras maluquices que deram a Gondry um lugar singular no cinema contemporâneo.

Nesse lugar, Gondry despontou como videoclipeiro, depois se arriscou em longas com resultados que nunca provocam apatia e, apesar de menos conhecidos, já assinou dois documentários remixando linguagens: "Block Party" (2005) e "L'Épine dans le Coeur" (2009).

A longa entrevista que ele fez com o linguista, filósofo e ativista político americano Noam Chomsky não se enquadra no formato "cabeças falantes", ainda comum no gênero documentário.

Os argumentos de Chomsky não abandonam a exigência teórica complexa, não recorrem à diluição na vã tentativa de seduzir o público.

A opção de Gondry é seguir os meandros conceituais como um aluno que mistura atenção e devaneio durante a aula, anotando, mas também desenhando imagens sugeridas pelo discurso.

Entre uma discussão e outra, Chomsky evoca memórias de infância, relacionamentos pessoais e a experiência da prisão, revelando uma intimidade que só aumenta o interesse do espectador.

Se seguisse o modelo convencional de entrevista, "O Homem que É Alto É Feliz?" poderia mostrar um Chomsky professoral, apresentando e discutindo ideias para um público de iniciados. O leigo assistiria respeitoso, mas sem entender patavina.

A solução encontrada por Gondry tem a vantagem de hipnotizar, colocar o espectador num labirinto de formas e metamorfoses que, em vez de distrair, atrai.


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