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Crítica - Drama

Ao embelezar a rudeza, 'Pau Brasil' soa a típica macumba para turista

Longa de Fernando Belens narra conflitos familiares em Brasil profundo com toques de realismo mágico

DO CRÍTICO DA FOLHA

Com um título que remete às origens do país, tanto no nome quanto no modelo de exploração, "Pau Brasil" pertence a um molde de cinema que quer revirar as camadas da nossa identidade para, quem sabe, representar o "ser" brasileiro.

O filme marca a estreia no longa de Fernando Belens, um veterano da geração que se expressou por meio do formato barato e alternativo do super-8 nos anos 1970 e depois migrou para o curta.

Pronto desde 2009, só agora "Pau Brasil" chega aos cinemas. Baseado no romance homônimo da escritora paulista Dinorath do Valle, o filme registra o cotidiano mesquinho e violento de um vilarejo no Brasil profundo com toques de realismo mágico.

A figura de um menino que atravessa um espaço todo branco, sugerindo um espelho, visa lançar o espectador em outra dimensão. Somos transportados para um local que reconhecemos como brasileiro em sua abundância natural, mas que desconhecemos em sua miséria.

Essa estrutura dupla se reproduz no conflito que opõe o núcleo familiar de Joaquim (Osvaldo Mil) e o de Nives (o sempre bom Bertrand Duarte). O primeiro é o homem da moral tacanha, que agride abertamente a sexualidade liberada da vizinha, enquanto esconde seus fantasmas abusando das filhas adolescentes nos fundos da casa.

O segundo consegue libertar-se das proibições, assume seus desejos e deixa a mulher à vontade para satisfazer os seus com outros homens.

Em torno do confronto, circula uma representação da herança africana, uma negra que faz as vezes de entidade mágica, protegendo ou executando o destino.

A transposição desses temas de uma base literária encontra o mesmo tipo de obstáculo das adaptações dos livros de Gabriel García Márquez. O poder alusivo do texto esbarra na concretude da imagem e limita os filmes à função de ilustrações.

No caso de "Pau Brasil", o bom acabamento técnico, a fotografia bem cuidada, a atenção ao trabalho com os atores alcança um nível de preciosismo que refuta o clichê de cinema brasileiro como malfeito que ainda persiste em boa parte do público.

No entanto, este embelezamento da rudeza, a necessidade de estetizar mesmo o repugnante neutraliza as intenções do projeto. Um olhar exótico pode se interessar pela "autenticidade" mostrada em "Pau Brasil".

O público brasileiro, porém, pode identificar na receita o sabor das muito típicas "macumbas para turistas".


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