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Crítica música erudita

Daniel Hope abre temporada do Mozarteum

Violinista britânico foi solo do grupo alemão Arte del Mondo em concerto de Bach e recriação de 'As Quatro Estações'

SIDNEY MOLINA CRÍTICO DA FOLHA

"O que há de errado com o original?" Essa foi a primeira reação do violinista britânico Daniel Hope ao ser convidado para fazer o solo da recriação de "As Quatro Estações" de Vivaldi (1678-1741) realizada por Max Richter.

Ao lado de obras de Bach (1685-1750) e Mozart (1756-1791), a recomposição de Richter foi apresentada pela orquestra alemã Arte del Mondo --dirigida ao violino por Werner Ehrhardt e tendo o próprio Hope como solista-- na abertura da temporada do Mozarteum Brasileiro na Sala São Paulo, na última quarta-feira.

Os humores clássicos são uma das especialidades do grupo. Violinistas e violistas tocam em pé, com os quatro primeiros violinos posicionados de frente para os quatro segundos, nos dois lados do palco. Duas violas, dois violoncelos, um contrabaixo e o cravo completam ao conjunto de cordas.

Na "Sinfonia n.29" --obra madura que Mozart escreveu aos 18 anos-- utilizaram também dois oboés e duas trompas. A orquestra é muito coesa, extrai contrastes dinâmicos surpreendentes e toca com alegria contagiante.

Daniel Hope entrou em cena para solar "Concerto para Dois Violinos" de Bach com Andrea Keller, requisitada especialista do violino barroco. Tomaram andamentos frenéticos, o que acentuou a estereofonia da escrita. Se Mozart foi leve sem ser superficial, Bach foi profundo sem ser pesado.

E pareceu que os "loops" que Max Richter concebeu para "As Quatro Estações" já fizessem parte da linguagem barroca. Há algo de barroco no minimalismo, assim como há algo estranhamente contemporâneo na sonoridade da música pré-clássica.

A recomposição segue a estrutura e a ordem dos quatro concertos originais de Vivaldi, cada um deles com os seus três movimentos.

Richter às vezes enxuga a parte solista, explorando pequenos fragmentos do original, que submete a reverberações e sutis deslocamentos métricos.

De sonoridade sofisticada, Hope usa um violino de 1742 e um tablet em vez da estante de partitura.

Os câmbios harmônicos introduzem uma delicadeza discreta: é o minimalismo --ele mesmo, com as suas repetições obsessivas-- que, paradoxalmente, protege Vivaldi daquilo que sua obra se tornou por ser tantas vezes repetida.


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