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'Praia do Futuro' é um melodrama de macho

Wagner Moura interpreta salva-vidas que abandona o irmão no filme de Karim Aïnouz

GUILHERME GENESTRETI DE SÃO PAULO

"Praia do Futuro" brinca com os filmes de super-herói. Os três personagens principais, todos homens, correm, batem, nadam. Mas também dançam colados, largam tudo, transam entre eles. "É um melodrama de macho", afirma o diretor, Karim Aïnouz.

"Queria dialogar com esse gênero de personagens grandiloquentes do cinema, mas de um jeito que fosse de carne e osso", diz o cineasta, que dirigiu "Madame Satã" (2002) e "O Céu de Suely" (2006).

Não é à toa que Aïnouz escolheu "Heroes", música de 1977 de David Bowie para dar o tom à sua produção. "Quando o roteiro derrapava, eu recorria a ela, para que a história tivesse raiva e melancolia, que fosse áspera e doce."

O filme estreia hoje, depois de ter competido na mostra principal do Festival de Berlim, em fevereiro.

Wagner Moura faz um dos heróis: Donato, salva-vidas que vigia os banhistas na praia em Fortaleza que dá nome ao filme. Ele é uma espécie de "Aquaman invencível" na cabeça do irmão pequeno.

O alemão Konrad (Clemens Schick) faz o tipo Motoqueiro Fantasma: corre o mundo em sua motocicleta e fisga a atenção de Donato. Os dois se apaixonam e vão morar juntos em Berlim, deixando para trás Ayrton, irmão do salva-vidas.

"É um cara que para virar humano tem que matar o lado herói e abandonar o irmão", diz Wagner Moura, sobre seu personagem, "um cara à procura da própria pele".

Quase uma década depois, o garoto já adulto (Jesuíta Barbosa) é quem vai para a Alemanha acertar as contas com o irmão, um pouco como um Speed Racer invocado.

O encontro tem socos e berros. "É o jeito que ele lidar com a raiva: gosta de esmurrar, se mutila", afirma Barbosa.

EM CARNE VIVA

Para ajudar os atores a criar cenas mais realistas --ou deixá-los em "carne viva", como define--, Aïnouz chamou mais uma vez a preparadora de elenco Fátima Toledo, criadora do método intenso que ganhou fama com "Tropa de Elite" e "Cidade de Deus".

"Há algo de perturbador [na preparação de Toledo]: não há segurança no processo e é o que Karim buscava", diz Moura, que já havia sido treinado por ela outras vezes.

Jesuíta Barbosa foi obrigado a se virar sozinho em Berlim por algumas semanas, sem dominar o idioma, como parte da preparação. "Se tem essa oportunidade, por que não? Já comecei a sentir o personagem ali", diz o ator.

A coprodução Brasil-Alemanha faz paralelos entre a ensolarada praia do Futuro, onde a trama começa, e uma gélida Berlim, onde termina.

"Berlim é utópica: foi devastada pela guerra, mas se reergueu, se modernizou", diz o diretor. "A praia é distópica: é promessa de futuro que não se cumpriu. O salitre corroeu as construções. E corroeu a alma do Donato também."

No filme, Moura interpreta um tipo mais calado, oposto do verborrágico Capitão Nascimento de "Tropa de Elite".

"Donato não tem clareza do que faz. Ele se expressa mais pelo físico: na forma como dança, como nada, como transa", diz Moura.

Físico que não falta no filme. Moura e Schick protagonizam cenas de sexo e chegam a aparecer nus. "É bonito filmar corpo de gente: é matéria viva, ideal para o cinema, que é movimento", diz Aïnouz.


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