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Autor mexicano trata com ironia estereótipos que surgem na Copa

'No Estilo de Jalisco', de Juan Pablo Villalobos, conta vida de um garoto que vê o tri do Brasil no Mundial de 1970

Escritor afirma que relação entre os dois países é 'superficial e baseada em ignorância e falta de interesse'

SYLVIA COLOMBO DE SÃO PAULO

Copa do Mundo é ocasião não só para viver e debater futebol, mas para colocar frente a frente culturas que em geral não se comunicam muito. Algum interesse genuíno pelo outro pode surgir, mas o que impera é um festival de estereótipos, quando não de preconceitos baseados em pura ignorância.

Esse é o tema de fundo de "No Estilo de Jalisco", novo livro do escritor mexicano Juan Pablo Villalobos, 41, que sai pela Bateia/Realejo, por encomenda das editoras brasileiras.

O autor do premiado "Festa no Covil" (Companhia das Letras), que aqui virou peça teatral dirigida pela atriz Mika Lins, constrói uma espécie de ensaio sociológico sobre Brasil e México, por meio de uma narrativa irônica e de tom semiautobiográfico.

O narrador da história é um mexicano nascido em Guadalajara que, aos sete anos, vê o Brasil ser tricampeão em terras mexicanas, na Copa de 1970, com Pelé e companhia. Jalisco é o nome do estádio em Guadalajara onde o Brasil jogou a maioria das partidas daquela campanha.

Anos depois, a capital do Estado de Jalisco parecia então uma cidade muito conservadora e algo sombria para um adolescente. Aos 18, com a ilusão de uma "promessa de felicidade brasileira" nascida daquela memória, ele decide mudar de país.

Desembarca, então, no Rio de Janeiro, e vive uma longa história de aventura e difícil adaptação cultural.

"O enredo não aconteceu comigo, mas as preocupações que o criaram são as que eu carrego desde que cheguei aqui", conta Villalobos, que vive em Campinas há três anos e é casado com uma brasileira, com quem tem dois filhos.

"O México e o Brasil se veem com carinho. Uma simpatia que, em parte, nasceu na Copa de 70. Os mexicanos admiravam o futebol do Brasil, e os brasileiros ficaram agradecidos com a torcida mexicana. Mas o que poderia ter sido o primeiro passo de uma relação mais profunda ficou só nisso."

Para Villalobos, um segundo passo nunca foi dado, e os dois países se conhecem apenas por conta de estereótipos.

"Para o mexicano, o Brasil é Carnaval e futebol. Para o brasileiro, o México é o personagem Chaves, a Frida Khalo e o tequila", completa. O livro faz questão de ressaltar, aliás, que os brasileiros se referem ao tequila de forma equivocada, como se fosse uma palavra feminina.

"É um exemplo de como nossa relação cultural é superficial, baseada na falta de interesse e na ignorância."

No Rio, o protagonista de "No Estilo de Jalisco" quer montar um espetáculo para levar ao México a "seleção canarinho", só que formada por dublês dos astros verdadeiros.

Fazendo as malas para voltar a Barcelona, onde viveu por oito anos, Villalobos se prepara para lançar um novo romance, no segundo semestre, pela Companhia das Letras. Diz que se incomoda quando o mercado editorial tenta rotular seu trabalho como "narcoliteratura", subgênero mexicano para tramas que estão relacionadas ao drama mexicano da guerra ao narcotráfico.

"Quando lido com esses temas, sempre é de modo oblíquo, nunca diretamente", conta, exemplificando com "Festa no Covil", cuja narrativa seguia um menino, filho de traficante, e suas fantasias.

NO ESTILO DE JALISCO
AUTOR Juan Pablo Villalobos
EDITORA Bateia/Realejo
QUANTO R$ 24,90 (93 págs.)


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