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Crítica - Drama
Mundo dos leilões é cenário de bom suspense
Giuseppe Tornatore filma com elegância uma história cheia de distúrbios psíquicos, voyeurismo e mistificações
Conhecido pelo academicismo e pelos contornos melodramáticos que imprime a seus filmes, o italiano Giuseppe Tornatore está de volta com uma obra um pouco diferente.
"O Melhor Lance" é um drama cheio de suspense ambientado no mundo dos leilões de arte e rodado em locações deslumbrantes, com trilha sonora de Ennio Morricone.
A figura central é Virgil Oldman (Geoffrey Rush), leiloeiro de antiguidades e obras de arte que desfruta de enorme prestígio por causa da habilidade para identificar, com um rápido olhar, uma pintura falsificada.
Avesso às relações sociais e às mulheres em especial, o cabotino e rabugento Oldman só está à vontade quando aprecia --sozinho e em uma sala secreta-- sua vasta coleção de retratos femininos que inclui obras dos pintores Tiziano, Goya, Rafael, Durer, Renoir e muitos outros mestres.
A vida desse personagem muda bruscamente quando a misteriosa Claire Ibbetson (Sylvia Hoeks) o contrata para avaliar a enorme coleção de arte que herdou dos pais. Ela sofre de agorafobia [medo doentio de estar sozinha em locais públicos] e se recusa a aparecer diante de Oldman.
Intangível como as mulheres retratadas em seus quadros, a jovem Claire desperta nele uma curiosidade obsessiva que se torna fascinação, lançando-o em uma aventura perigosa.
Tornatore filma com elegância essa história de distúrbios psíquicos, voyeurismo e mistificação --jogando o tempo todo com o visível e o invisível.
Quase tudo acontece na mansão de Claire, cujas salas secretas guardam vários segredos, assim como as engrenagens de uma engenhoca mecânica que Oldman encontra no porão. Nem tudo é completamente elucidado.
Apesar de várias reviravoltas --algumas engenhosas, outras inúteis, alongando um pouco o filme--, que vão dando pistas esparsas sobre o quebra-cabeças, o desfecho guarda uma boa dose de surpresa.