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Crítica

Cartum com traço infantil faz rir pela falta total de superego

Livro de ilustrador islandês encarna o humor da internet de textos rápidos

As piadas não atingem só minorias. Se o humor é negro, o alvo do riso é para lá de democrático

DIEGO ASSIS COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Escatologia, zoofilia, necrofilia, pedofilia; infanticídio, matricídio, parricídio, fratricídio, suicídio; gays, padres, bêbados, políticos, policiais, deus e o diabo. Você é capaz de rir de uma coisa dessas?

Se sua resposta for um sonoro "Não", é bom passar longe desse livreto de capa vermelho-sangue e ilustração pequenina, quase imperceptível, de uma mãe que vomita sobre um carrinho de bebê.

Na assinatura, lê-se apenas "Dagsson - o mais famoso cartunista da Islândia". Completa o texto da contracapa, não sem antes avisar: "Esse escritor e desenhista não tem talento algum, e este livro nunca deveria ter sido publicado. É desprezível, grosseiro e enojante, e essas são as palavras mais positivas que eu poderia usar para descrevê-lo".

Permita-me discordar. "Como Você Pode Rir de uma Coisa Dessas?", antologia de cartuns lançada agora no Brasil pela editora Veneta, é uma das bobagens mais engraçadas em que passei --e repassei duas, três, quatro vezes-- os olhos nos últimos tempos.

O falso moralismo que permeia o título, claro, é uma piada contra quem acha que chacota tem que ter limite. Nada mais sem graça.

Desenhados com traço infantil e minimalismo, os cartuns de Dagsson fazem rir pela ausência completa de superego. O pai que segura a faca em uma mão e o coração ensanguentado da esposa na outra enquanto interrompe a sessão de TV dos filhos dizendo: "Crianças, olhem o que achei dentro da mãe de vocês" é mais um trapalhão de desenho animado do que propriamente um assassino de noticiário mundo cão.

Por mais sangue, bestialidades e um punhado de verdades exageradas que se possa encontrar nas páginas do livro, Dagsson nunca poderá ser acusado de perversidade.

Suas piadas não atingem (só) minorias, mas as próprias famílias. Se, em uma página, o adulto zomba de uma criança, na página seguinte, são as crianças que vão à forra contra os adultos.

Se numa o homem da casa coloca o dele na mesa e mostra quem manda, noutra, é a mulher quem cai na gargalhada ao ver que o que tem sobre a mesa não é lá grande coisa. Se o humor é negro, o alvo é para lá de democrático.

Cria do encontro da anárquica revista "Mad" com os webcomics dos anos 2000 --títulos como "The Perry Bible Fellowship" e "xkcd" vêm à lembrança--, Dagsson faz hoje, aos 36, o humor com a cara da internet: mais voltado ao texto rápido do que para a ilustração ou a caricatura.

Não à toa, o islandês é uma celebridade na rede, com 70 mil curtidas em sua página no Facebook. Já é mais do que a metade da população de Reykjavík, capital da Islândia.


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