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Crítica artes visuais

Mérito de Bienal da Bahia está no uso de contextos locais

Referência à 2ª edição da mostra, censurada nos anos 1960 pela ditadura, não vai além da simples encenação

FABIO CYPRIANO CRÍTICO DA FOLHA

A 3ª Bienal da Bahia é composta por uma constelação de pequenas exposições que abordam, algumas de forma superficial, outras de maneira contundente, questões da cultura local. O que já é um mérito da mostra, em cartaz até 7 de setembro.

Essa preocupação com o contexto --já no título "É Tudo Nordeste?"-- e a inserção de artistas como pesquisadores de narrativas locais refletem-se de forma bastante vibrante, muitas vezes tornando difícil separar a obra do espaço onde ela se encontra.

Isso é evidente no Arquivo do Estado, uma edificação do século 16 onde viveu o padre Antônio Vieira e que passou por diversas funções, como hospital e asilo.

Literalmente em decadência, o edifício é sustentado por andaimes em sua área central e recheado de dezenas de pequenos baldes plásticos, que protegem o piso centenário das goteiras. O ambiente em si já é uma instalação.

É justamente sobre essas soluções provisórias que o artista Rodrigo Matheus fez sua obra: nos vasilhames, ele agregou pequenas plantas aquáticas e, nos andaimes, colocou espelhos. Assim, o improvisado ganha uma leitura estética e tem sua função transformada pela Bienal.

De certa forma, quando os artistas se aproximam do contexto ao ponto de se mimetizar a ele, criando novas narrativas a partir de algo já existente, é que o time curatorial, composto por Marcelo Rezende, Ana Pato, Ayrson Heráclito, Alejandra Muñoz e Fernando Oliva, consegue maior êxito.

Outro bom exemplo é a Galeria Esteio, um projeto do artista Maxim Malhado, no jardim da Escola de Belas Artes.

Lá, ele reconstruiu uma experiência bem-sucedida no interior da Bahia, onde casas de pau a pique funcionavam como espaço para exposições e encontros.

Malhado ainda disponibilizou o entorno da tradicional escola para uma série de eventos, que incluem conversas com artistas da Bienal e novas mostras.

Contudo, há um evidente excesso da curadoria nesse afã em evidenciar o contexto. Isso se torna claro na seção "Reencenação", no mosteiro de São Bento.

Ponto por si só especial, a casa dos beneditinos recebe uma exposição dedicada à história das primeiras duas edições da Bienal da Bahia, em 1966 e 1968.

Há uma mitificação dessas edições, o que já é um problema. Depois, a própria curadoria acrescenta à mostra elementos que não vão além de uma simples encenação, como lápides com nomes de obras que foram confiscadas pela ditadura durante a 2ª Bienal. Um claro exagero.

Também é teatral dispor vozes dentro de móveis, como se fez com textos de cartas sobre as mostras históricas.

Esse tipo de estratégia funciona em museus temáticos, como os do Futebol e da Língua Portuguesa. Em mostras de arte contemporânea, curadores precisam de fato dar a voz aos artistas.


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