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Crítica - Drama

Atuações humanizam filme sobre a solidão

Com Paulo André e Sílvia Lourenço, 'O Homem das Multidões' entrelaça as vidas de dois funcionários de trem

CÁSSIO STARLING CARLOS CRÍTICO DA FOLHA

Cinema a dois pode ser programa habitual de casal, mas dividir a direção entre dois realizadores talentosos pode culminar em grande encrenca. A não ser que cada um se deixe guiar um tanto pelo outro, como nós, espectadores, costumamos ser levados pelos filmes.

Em "O Homem das Multidões", realizado por Cao Guimarães e Marcelo Gomes, a proposta de encontro criativo entre o celebrado cineasta mineiro e o diretor pernambucano faz ainda mais sentido na medida em que se trata de um filme sobre solidão.

Ou melhor, sobre solidões e sobre as dificuldades de aproximação num universo urbano saturado, em que proximidade anuncia conflitos.

De um lado, há Juvenal, um condutor de trem, palavra que soa saborosamente mais mineira do que metrô. De outro, Margô, que acompanha os fluxos das máquinas, organiza e observa a segurança da sala de operações.

Ele vive isolado, tanto dos usuários, na cabine à frente, como do mundo, num apartamento. Ela trabalha num ambiente despovoado e mal conversa ao seguir o movimento num monitor. Quando aparece nas ruas, a imagem dele ganha definição em meio à massa. Ela, a princípio, é uma voz fora de campo.

Para evidenciar a experiência atomizada dos personagens, os diretores adotaram um formato anômalo de projeção. Em vez da janela padrão, mais retangular, o filme é exibido numa proporção quadrada, que transmite a impressão de uma foto.

Esta atenção à forma ou a ênfase nos aspectos plásticos, projetados na paleta desbotada da fotografia do sempre inventivo Ivo Lopes Araújo, dão ao filme uma faceta formalista que para os defensores de um "cinema puro" pode parecer contaminação.

Mas a abordagem conceitual do velho tema moderno do isolamento e da incomunicabilidade se adoça, ganha corpo com a aproximação, mesmo que falhada, de Margô e Juvenal, que constitui um fiapo narrativo.

Nos pontos de contato e de atrito das atuações de Paulo André e Sílvia Lourenço, "O Homem das Multidões" humaniza-se e ganha uma vida além do puro conceito.


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