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Crítica - Biografia

Cacá Diegues dirige memórias de uma maneira inteligente

Autor narra com fluência grande quantidade de fatos desde o cinema novo

EVANDO NASCIMENTO ESPECIAL PARA A FOLHA

Lê-se com prazer a "Vida de Cinema", de Cacá Diegues. Gênero pouco praticado entre nossos artistas, as memórias são fundamentais para entender a cultura de um país em determinado período. Sublinhe-se a fluência do texto, a despeito da quantidade gigantesca de fatos que são referidos página após página.

Não por acaso, é dado espaço alentado ao cinema novo, com que se confunde grande parte da trajetória do autor. Avulta o nome de Glauber Rocha, tratado com afeto e respeito. Assim, é citada e repetida a frase atribuída a Nelson Pereira dos Santos: "O cinema novo era quando Glauber chegava da Bahia".

Mas a admiração se estende ao conjunto dos colegas que se associaram à estética cinemanovista: Paulo César Saraceni, Ruy Guerra, Joaquim Pedro de Andrade, Leon Hirszman, entre outros. Abundam casos verídicos, bem como algumas mitologias desse movimento que ganha o mundo na década de 1960 e começa a perder vigor no final da de 1970.

Ao longo dos anos, as colaborações vão se somando, mas também as polêmicas, e com isso os desafetos afloram no seio do grupo, em particular na relação de Cacá com Saraceni e Joaquim Pedro. Para todos os episódios, o autor fornece interpretações, costura roteiros, atribui falas e marcações, dá cortes.

Trata-se de inteligentíssimo trabalho de direção. Como quem sabe que é impossível conduzir o futuro, mas é viável reconfigurar o passado, segundo a força da memória (voluntária ou involuntária). Fica claro que a riqueza de um livro desse porte está em não temer dar sua própria versão, procurando não ferir brios alheios, mas sem deixar de justificar suas próprias atitudes.

Exatamente por esse motivo seria fundamental que surgissem outras autobiografias dos remanescentes da geração do cineasta, bem como das gerações subsequentes, com que ele continuou a se relacionar. A verdade histórica só pode emergir no confronto das versões.

Composto de sucessivos verbetes, o texto se interrompe no ano de 1995, para evitar a proximidade excessiva.

Pode-se aqui e ali apontar o zelo vaidoso de quem cita e comenta sobretudo as críticas positivas sobre seus filmes. Porém, o balanço geral da narrativa é favorável às intenções de um artista-pensador que se deu a pena de recordar tantos acontecimentos, muitos provavelmente já esquecidos pela memória coletiva.


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