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Crítica - Rock
Novo Pixies perde relevância e parece imitação de si mesmo
Primeiro álbum em 23 anos só serve para mostrar como a banda já foi genial
O Pixies corre o risco de se tornar para o rock americano independente aquilo que os Rolling Stones são para o classic rock: uma banda que foi genial, ditou regras, influenciou mais de uma geração e hoje solta discos até bons, mas não brilhantes.
Esse julgamento pode se revelar prematuro, porque "Indie Cindy" é o primeiro disco da banda depois de 23 anos, e soar menos inspirado do que os quatro anteriores talvez seja eventualidade.
Mas a apresentação do grupo no Lollapalooza Brasil, em abril deste ano, também pesa contra o Pixies. Foram burocráticos e tocaram sem tesão, com o cantor/guitarrista/líder Black Francis olhando para o relógio, meio na torcida para que o horário da sessão terminasse logo.
A única figura entusiasmada daquele show foi a baixista argentina Paz Lenchantin, substituta da Miss Simpatia do rock indie, Kim Deal, integrante original da banda.
Mas Paz não aparece nas 12 faixas do novo álbum. Elas foram gravadas com Simon "Dingo" Archer no baixo.
Em hipótese alguma é possível falar que o disco seja ruim. No panorama de lançamentos de rock da temporada, entra nos "dez mais".
Mas este é o Pixies, grupo que foi uma das influências do Nirvana e de todo o povo alternativo que tomou a MTV no início da década de 1990.
Por isso é estranho ouvir o guitarrista Joey Santiago em riffs que emulam o grunge e Francis cantar letras que mais parecem tentativas de algum adolescente em missão de imitar os clássicos do Pixies.
Há acertos, como "Ring the Bell", "Indie Cindy" e "Snakes". No entanto, a audição do álbum provoca uma grande vontade de ouvir de novo os primeiros CDs,"Surfer Rosa" (1988) e "Doolittle" (1989).