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Crítica Drama

Diretor desperdiça talentos e possibilidades com excessos

DO CRÍTICO DA FOLHA

COMO UM JOVEM INSEGURO DO QUE SABE, O DIRETOR XAVIER DOLAN AINDA ACREDITA DEMAIS NO PODER DA BAJULAÇÃO

O diretor canadense Xavier Dolan, com 23 anos e três primeiros trabalhos selecionados com o marketing da "ousadia" para o Festival de Cannes, confirma que, por enquanto, seu talento não se distingue da arte da autopromoção.

Depois de encarnar papéis supostamente autobiográficos em "Eu Matei a Minha Mãe" e "Amores Imaginários", Dolan nos dá um tempo de seu encantamento pelo próprio gênio.

"Laurence Anyways", saga de quase três horas, poderia ter sido seu melhor filme até agora (não que isso signifique grande coisa) se tivesse metade dessa duração.

Laurence é um homem comum, posto em crise. Com quase 30 anos e casado, "descobre-se" transexual e escolhe desvestir a imagem masculina e adquirir a feminina.

O ponto de partida sugestivo ganha reforço na confusão dos gêneros, interpretação que enxerga, além das diferenças genitais, homem e mulher como construções culturais -em resumo, fabulações.

Esse tema, que encontrou em "A Pele que Habito", de Almodóvar, uma exposição tão subversiva quanto fantástica, é retomado por Dolan num registro mais prosaico, focado nas relações de afeto no interior da família e do casal.

Melvil Poupaud entrega-se ao papel movido pela fascinação dos atores pelo transformismo, mas sem nunca se supor uma Meryl Streep.

Vestido de homem ou de mulher, barbeando-se ou maquiando-se, o francês atua como se estivesse dentro e fora do personagem e, desse modo, reforça o conceito de representação e de crise buscado pelo filme.

Mas, tal como em seus primeiros trabalhos, a abundância de possibilidades e os talentos a serviço de Dolan são desperdiçados pelo impulso do diretor de saturar, de inserir momentos musicais "emocionantes", ênfases melodramáticas e excessos visuais.

Como um jovem inseguro do que sabe, Dolan ainda acredita demais no poder da bajulação.

(CÁSSIO STARLING CARLOS)


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