Folha de S.Paulo

Falta de ânimo norteia enredo cômico de peça

GUSTAVO FIORATTI DE SÃO PAULO

Existe algo de anódino na vida da conferencista de pequenos objetos de escritório Constanza Brendel, mas ela não sabe bem o que é.

Talvez seja só falta de ânimo o que a coloca, junto com os outros quatro personagens da peça "A Pior Banda do Mundo", em uma espécie de letargia crônica.

A peça da Companhia dos Outros, que estreia hoje no Teatro da Universidade de São Paulo, região central, introduz esse gênero de humor com o aviso: "Ninguém se lembra; não foi muito importante".

Na história, os cinco personagens se reúnem há dez anos para formar uma banda. Gastaram esse tempo ensaiando uma mesma música, e os ensaios não os levaram a lugar nenhum.

Enquanto tentam sincopar instrumentos musicais variados, os atores representam a feição de uma metodologia sem conserto -ou sem concerto, literalmente.

"Não precisamos fazer esforço para demonstrar a falta de talento da banda", diz Carolina Bianchi, que assina a concepção do espetáculo. "Nós, os atores, realmente não temos nenhuma intimidade com os instrumentos que tocamos em cena."

Bianchi já se interessava pela decadência e pelo fracasso como temas para entremear uma montagem cujo texto teria base em improvisos. Após entrar em contato com a obra do quadrinista português José Carlos Fernandes, o norte para o espetáculo se confirmou.

"A Pior Banda do Mundo" é inspirada em série homônima do artista, que tem trabalhos editados em Portugal e França, mas não no Brasil.

"Toquei bateria na Segunda Pior Banda do Mundo e usei as minhas dolorosas experiências para inventar uma banda ainda mais inepta", diz.

A pesquisa deu origem a cenas que roçam o teatro do absurdo. Como quando Constanza Brendel (Amanda Lyra) pega um rádio e põe para tocar uma música napolitana. Aos poucos, aponta rubrica no texto, ela começa a sofrer um ataque epilético.