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Crítica musical

Encontro de artistas ímpares sublinha feroz crítica social de Brecht

Wilson cria cenas de fora para dentro, a partir da luz e da forma que se dá a ver

LUIZ FERNANDO RAMOS CRÍTICO DA FOLHA

Um golpe de gênios. A encenação de "A Ópera de Três Vinténs" de Robert Wilson, com o elenco do Berliner Ensemble, é uma bela e incisiva revisão da obra-prima criada pelos dramaturgos alemães Bertolt Brecht (1898-1956) e Kurt Weill (1900-1950).

A dupla adaptou, em 1928, "A Ópera dos Mendigos", criada pelo inglês John Gay 200 anos antes.

Sucesso imediato na Alemanha e no resto do mundo, ela foi traduzida para diversas línguas e recebeu milhares de versões, inclusive uma brasileira, "A Ópera do Malandro", em 1978.

Brecht tinha 29 anos quando escreveu os versos que Weill musicou, revelando seu talento particular para descrever o ser humano no que tinha de pior. Ele expõe na trama, com humor cáustico e ironia lírica, como escroques podem se ajudar ou se destruir conforme o vento sopre.

A parceria de Wilson com o Berliner Ensemble, o teatro criado por Brecht em Berlim, em 1949, insere-se na busca deste coletivo de não se ossificar com ideias anacrônicas.

A montagem, que apresenta atrizes e atores primorosos, honra o dramaturgo e atualiza suas premissas.

A começar pelo jogo de Wilson com o efeito de distanciamento, mecanismo de que os atores se serviriam para o público não se encantar com os personagens e pelo qual se mostrariam críticos àqueles.

O encenador norte-americano sempre soube provocar estranhamentos. Sente-se à vontade com a demanda e também a valoriza.

A ambientação da narrativa nos anos 1920 tem como referência o cinema mudo e suas maquiagens excessivas.

Máscaras faciais expressionistas convivem com uma cenografia geométrica e com fundos coloridos, que evocam a pop art e as histórias em quadrinhos.

Tudo isso é, ainda, Wilson sendo fiel a si próprio.

Onde sua sintonia com Brecht se evidencia de fato -e atinge eficácia que nenhuma ortodoxia brechtiana jamais alcançaria- é na precisão com que desenha os gestos.

Tudo é sempre pontuado pela ótima orquestra ao vivo, o que evita que o recitativo musical seduza e entusiasme demais, e desvenda, a cada passo, as intenções reais dos agentes.

Wilson sempre cria sua cena de fora para dentro, a partir dos elementos arquitetônicos, da luz e da forma que se dá a ver, nunca a partir dos conteúdos dramáticos.

Aqui, não é diferente -e é curioso que a crítica social de Brecht ganhe tanta força quando submetida à matéria cênica, que a faz mais clara e contundente.

É um encontro de artistas ímpares: somadas suas diferenças, tornam-se ainda maiores.

A ÓPERA DE TRÊS VINTÉNS
QUANDO hoje e amanhã, às 21h; sáb., às 17h
ONDE Sesc Pinheiros (r. Paes Leme, 195; tel.: 0/xx/11/3095-9400)
QUANTO ingressos esgotados
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO ótimo


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