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Crítica Música erudita

Elegância vocal de Renée Fleming destoa em recital acanhado

Faltou garra à apresentação da soprano com o pianista Gerald Martin Moore, na temporada do Cultura Artística

SIDNEY MOLINA CRÍTICO DA FOLHA

Sutileza em Debussy, profundidade em Strauss, tensão em Verdi: esses foram os pontos altos do repertório apresentado pela soprano norte-americana Renée Fleming na Sala São Paulo, anteontem.

Seu recital, ao lado do pianista Gerald Martin Moore, também contemplou obras de Canteloube, Korngold, Leoncavallo e Cilea, além de quatro números extras.

"Chora em meu coração/ Como chove sobre a cidade", dizem os versos de Paul Verlaine (1844-1896), poeta francês que faz a ponte entre a primeira geração romântica de Felix Mendelssohn (1809-1847) e o impressionismo de Claude Debussy (1862-1918).

Afinal, o poema está em um ciclo diretamente inspirado nas "Canções sem Palavras" de Mendelssohn, tornadas "palavras sem canções" por Verlaine até serem transformadas em "canções com palavras" por Debussy.

Vozes mudam com o tempo. Mas Renée Fleming mostra que a maturidade pode trazer novas sutilezas à beleza de timbre, à intensidade e à flexibilidade que a fizeram atingir os níveis mais altos da cena lírica.

Sobressai uma elegância que contorna os estilos e determina a escolha das soluções interpretativas.

A condução ao silêncio em "Morgen!" (Amanhã!), de Richard Strauss (1864-1949), talvez tenha sido o ponto alto da noite.

A cena que antecede a morte de Desdêmona em "Otello", de Verdi (1813-1901), foi transformada em puro dueto camerístico por Fleming e Moore, piano e voz trocando ressonâncias do "presságio de pranto".

Talvez tenha faltado, no entanto, um pouco de garra ao recital.

A apresentação foi contida, até mesmo econômica, como se houvesse ainda voz para soltar. Mas concluiu com dignidade a centésima temporada da Sociedade de Cultura Artística.

Desde o incêndio do teatro, em 2008, a temporada internacional tem ocupado outros espaços da cidade, o que deverá ocorrer ainda por mais alguns anos.

A série 2012 iniciou timidamente com Nelson Freire e a Orquestra Nacional Russa, foi ousada ao apresentar o Ensemble Intercontemporain e acertou ao trazer Lang Lang. Uma pena, porém, o pianista Evgeny Kissin ter cancelado a sua apresentação.

O segundo semestre foi dominado por mulheres: além de Renée Fleming, a pianista Maria João Pires, a mezzo soprano Joyce DiDonato e a violoncelista Sol Gabetta.


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