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Crítica

Hábil, diretor de thriller político só peca ao não tomar partido

CRÍTICO DA FOLHA

"Em Nome de Deus" apresenta-se, ao primeiro olhar, como um thriller: em 2001, nas Filipinas, um grupo com cerca de 20 pessoas, incluindo europeus e americanos, é capturado no interior do país pelos terroristas do grupo muçulmano Abu Sayyaf.

A partir daí, sem deixar de ser um filme de ação, "Em Nome de Deus" mostra sua face política: são muçulmanos, são terroristas e o ano, sintomaticamente, é 2001.

Entre os reféns encontra-se Thérèse Bourgoine (Isabelle Huppert), que trabalha para uma ONG humanitária.

Temos então, lado a lado, o que pode haver de implacável nessa ação: os reféns encontram-se na selva e ali têm de permanecer, caminhar, sofrer toda espécie de desconforto, enquanto esperam por um possível resgate.

Para evitar a armadilha mais frequente em que costumam cair os filmes políticos (tomar partido, justificar os guerrilheiros, tomar o partido dos reféns), o diretor Brillante Mendoza procura mostrar a ação no que ela tem de mais físico: a dor, a decomposição de cada personagem, a tortura da incerteza permanente quanto à volta com vida ou não etc.

Não se pode negar, quanto a isso, a habilidade no uso e no crescendo da angústia que toma os reféns.

Mendoza articula esse aspecto ao conhecimento das condições em que os próprios guerrilheiros são recrutados (ênfase para o jovenzinho com quem Thérèse estabelece um precário diálogo).

O que se pode questionar nisso tudo é: até que ponto Brillante Mendoza não faz um filme que tem de novo, essencialmente, a cor local?

Mesmo que se admita a evidente energia com que trabalha seu tema -a mistura novamente tão atual entre guerra e religião-, o que sobressai é o filme de ação da selva.

Também "Em Nome de Deus", em seu desejo de mostrar as razões de todos os lados, cai em outra armadilha que não a sugerida na abertura desse artigo: um filme político que reluta em tomar partido já está, de certa forma, tomando um: o pior.

Temos um filme que se deixa ver facilmente, que talvez seja justo levar em consideração pela habilidade do diretor filipino, mas que também não será assim tão difícil esquecer.

(INÁCIO ARAUJO)


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