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Crítica teatro

Ingenuidade mina estreia de Regina Duarte na direção

Atriz recupera obra dramatúrgica de autor piauiense, mas não a valoriza

LUIZ FERNANDO RAMOS CRÍTICO DA FOLHA

Estrela sem rumo. "Raimunda, Raimunda", encenação da atriz Regina Duarte de texto do dramaturgo piauiense Francisco Pereira da Silva (1918-1985), não honra nem o autor que homenageia, nem a protagonista.

O texto, de 1973, é o último para teatro de Pereira da Silva, escritor respeitado no Rio dos anos 1950 pelo resgate dos modos de vida do sertão nordestino, de seus tipos humanos e falas características.

Sua obra dramática completa foi publicada em 2010, incluindo as quatro peças curtas contidas em "Raimunda, Raimunda". Duas delas são agora encenadas por Duarte.

Na primeira, Raimunda é uma sobrevivente de hecatombe, que vaga em um planeta inóspito, ao lado de um hermafrodita, evocando a cultura dos anos 1960.

Na segunda, encarna uma cearense rejeitada por ter lábio leporino que vai ao Rio se operar, torna-se uma modelo disputada por ricaços e termina consumida pela bomba de Hiroshima.

As duas peças têm registros distintos -drama ligeiro em uma, farsa com tons de crítica social na outra- e compartilham o tema da guerra nuclear e certo ar naïf. O autor mira fatos históricos com o olhar ingênuo da cultura popular, o que faz os textos soarem anacrônicos.

Regina Duarte é uma atriz vitoriosa, principalmente nas telenovelas. Ao assumir, pela primeira vez na carreira, a função de diretora teatral, escolhe obras menores de Pereira da Silva e cria uma cena inconsistente.

TRUQUES

O espetáculo chega a constranger, pelo acúmulo de soluções primárias e pelo foco exagerado de Duarte em seu próprio desempenho. Não que ela seja uma atriz sem tarimba. Mas essa virtude se apaga quando sobressaem truques repetitivos na interpretação e o uso demagógico do discurso datado do autor.

O que salva o projeto do colapso é o excelente elenco de apoio, formado por oito atores. Eles são responsáveis, também, pelos papéis femininos e conseguem, no virtuosismo com que enfrentam o desafio, minimizar o insólito involuntário do conjunto.

Regina Duarte é uma artista de respeito e sua disposição ao risco deve contar a seu favor. Porém, em sua estreia como "autora", decepciona.


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