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Crítica Estudos teatrais

Obra sintetiza o legado de dramaturgo russo

Compilação de textos do ator e diretor Vsévolod Meyerhold ganha primeira tradução direta do idioma original

LUIZ FERNANDO RAMOS CRÍTICO DA FOLHA

Restauração de um clássico. "Do Teatro", único livro do encenador Vsévolod Meyerhold (1874-1940), é, pela primeira vez no país, editado no formato de sua versão original e transposto diretamente do russo para o português.

Publicada por Meyerhold em 1913, a obra sintetiza parte do legado deste notório ator e diretor russo.

Nela estão registradas ideias e posições desenvolvidas entre 1905 e 1912, período que marca sua autonomia do mestre Stanislávski e prepara a fase de engajamento na revolução soviética.

Em 1969, a editora Civilização Brasileira publicou "O Teatro de Meyerhold", volume que reunia os mesmos textos, só que organizados e apresentados pelo dramaturgo pernambucano Aldomar Conrado. Foi com essa edição, há muito esgotada, que gerações conheceram-no.

O atual tradutor, Diego Moschkovich, respeita a estrutura do original russo com a introdução de Meyerhold e todas as suas notas, e acrescenta dois anexos: um texto de 1935 do cineasta Serguei Eisenstein, que foi discípulo do encenador, em que compara seu mestre a Stanislávski; e uma breve e curiosa autobiografia de Meyerhold.

Escrita em 1921, parece endereçada aos comissários do Partido, pois ele se preocupa em ressaltar as afinidades que tinha com os camponeses desde pequeno, mesmo sendo filho de um fazendeiro dono de uma fábrica de vodka. Infelizmente, Meyerhold foi, duas décadas depois, morto pelo regime sob acusação de espionagem.

Como aponta a pesquisadora francesa Béatrice Picon-Vallin, no prefácio a esta edição brasileira, o livro pode ser lido como um "romance de aprendizagem".

Ele condensa os embates intelectuais e artísticos que forjaram a estética teatral meyerholdiana.

Na primeira e segunda partes, o autor reúne dois artigos de fôlego e anotações de seus diários, referentes às suas encenações entre 1905 e 1910.

A terceira parte, com seu ensaio mais famoso, "Balagan", reflete seu pensamento em 1912 e traz a lista de todos os seus espetáculos até então e uma coletânea, comentada por ele, das críticas sofridas.

Aos olhos de hoje, algumas formulações que o consagraram resistem clássicas, como o "teatro de convenção". Ideia alternativa ao naturalismo, tornou-se tão influente no teatro posterior que hoje é hegemônica no panorama teatral.

Outras soam atualíssimas, como a que diferencia o "dramaturgo serviçal" do público do que tenta "arrancar o teatro" dessa servidão.

A tradução de Moschkovich propõe, justificadamente, soluções novas para alguns termos já consagrados nos estudos brasileiros do teatro russo.

Por exemplo, nas criticas à perspectiva naturalista do Teatro de Arte de Moscou, a expressão "teatro dos estados d'alma", derivada da tradução francesa, é substituída por "teatro de humores".

Descuidos editoriais, como o que define em nota o suíço Adolphe Appia como "sueco", não empanam o feito de se apresentar, em sua inteireza, este livro mítico da teatralidade moderna.

Em diálogo com gigantes do passado, como Molière e Wagner, ou seus contemporâneos, como Gordon Craig e Stanislávski, Meyerhold deixa aqui inscrita sua herança mais perene.


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