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Crítica romance

Clássico da distopia moderna, 'Laranja Mecânica' chega aos 50

Livro de Anthony Burgess ganha edição comemorativa com ensaios e desenhos

BRAULIO TAVARES ESPECIAL PARA A FOLHA

Publicado em 1962 por Anthony Burgess (1917-1993), o romance "Laranja Mecânica" tornou-se um clássico das distopias modernas, juntamente com outros livros de autores britânicos, como "1984", de George Orwell, e "Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley.

Os três ainda têm em comum o fato de serem obras de ficção científica (especulações futuristas baseadas na suposição de mudanças sociais e tecnológicas) escritas por autores de fora do gênero, o que talvez tenha facilitado sua aceitação como grandes obras literárias.

A editora Aleph está lançando uma edição comemorativa dos 50 anos de "Laranja Mecânica", na qual reutiliza a tradução feita por Fábio Fernandes em 2004.

A nova edição traz ilustrações e um apêndice com vários textos do autor (de 1961, 1972, 1973, 1990). Neles o autor também comenta a célebre versão feita para o cinema por Stanley Kubrick.

Em conjunto, os textos enriquecem a avaliação do livro, cuja importância só fez crescer desde seu lançamento.

Traz também prefácio do tradutor, comentando os desafios de encontrar equivalentes em português para a gíria "nadsat" dos personagens -uma mistura de russo e da gíria rimada londrina.

Para esta edição de 50 anos foram encomendadas ilustrações de Dave MacKean (famoso pela sua parceria com Neil Gaiman na série de quadrinhos "Sandman"), Oscar Grillo e o brasileiro Angeli.

O volume se encerra com a reprodução em fac-símile de páginas do manuscrito original, com anotações e desenhos de Burgess.

Ansioso com a relatividade da ideia de "certo" e "errado", Burgess discute neste romance, e em seus comentários, a nossa necessidade de definir conceitos absolutos de "o bem" e "o mal" que nos ajudem a navegar numa época de violência gratuita e crueldade inexplicável.

"Laranja Mecânica" é um livro percorrido por imagens do que Burgess identifica com manifestações não do mal: "quatro jovens sorridentes torturando um animal, um estupro em gangue, vandalismo a sangue-frio".

Esta questão é tocada transversalmente por outra, a do livre-arbítrio. Mesmo admitindo que sejamos capazes de identificar o bem e o mal com nitidez, isto resolve apenas uma parte do problema.

Alex e sua gangue de "druguis" querem se dedicar a estupros e espancamentos, ou seja, ao mal. Essa é uma livre escolha que, paradoxalmente, garante a possibilidade de escolhermos o bem.

Se Alex é livre para escolher, nós também somos. Se hoje o Estado o tortura e o martiriza para afastá-lo do mal, quem nos garante que não fará o mesmo a nós amanhã, para nos afastar do bem?

BRAULIO TAVARES é escritor e compositor. Publica no blog Mundo Fantasmo (mundofantasmo.blogspot.com)

LARANJA MECÂNICA
AUTOR Anthony Burgess
EDITORA Aleph
TRADUÇÃO Fábio Fernandes
QUANTO R$ 36 (224 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo


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