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Operação Cracolândia

Região da Luz vira palco de ações artísticas empreendidas por grupos de teatro, dança e grafite que se relacionam com o espaço público

Letícia Moreira - 9.jun.12/Folhapress
Cena de "Bom Retiro 958 Metros", do Teatro da Vertigem, inspirada em intervenção do grupo realizada na região da cracolândia
Cena de "Bom Retiro 958 Metros", do Teatro da Vertigem, inspirada em intervenção do grupo realizada na região da cracolândia
GUSTAVO FIORATTI DE SÃO PAULO

Em setembro e outubro, o espetáculo "Piratas de Galocha" encampou uma ação artística desbravadora pelo bairro Campos Elíseos, no centro de São Paulo -mais especificamente pela região apelidada de cracolândia.

A peça (que no dia 15 volta à porta da Estação Júlio Prestes) é apresentada às 20h, horário em que o tráfico e o uso de crack fervem pelo bairro. Enquanto esteve em cartaz, atores, público e usuários de drogas dividiram ali um mesmo cenário: a rua.

Houve uma ocasião especialmente tensa na temporada, conta o diretor Rafael Presto, 26. Dez intérpretes atuavam para uma plateia com cerca de 20 pessoas, e uma "feira" se formou bem no meio do espetáculo.

"Feira" é o nome dado a grupos de usuários que se deslocam atrás de traficantes. São dezenas deles, apinhando-se como zumbis.

Os "Piratas de Galocha" não estão sozinhos na tentativa de estabelecer uma troca entre artes e o bairro cheio de problemas, alvo de projeto de reurbanização da prefeitura chamado "Nova Luz", cujo edital foi lançado em 2009.

Outros grupos de teatro e de dança e artistas plásticos aportaram ali para experimentar o que tem sido tratado até então como um campo minado.

Ao divulgar que o grupo Os Satyros pretende deixar sua sede na praça Roosevelt por causa da alta nos aluguéis, o ator e diretor Ivam Cabral afirmou que está de olho na Cracolândia. Quer se avizinhar ao grupo Pessoal do Faroeste, que em fevereiro deste ano abriu novo espaço na rua do Triunfo, hoje um dos pontos mais críticos da região da Luz.

As "feiras" são frequentes na porta do teatro, onde está sendo realizada uma mostra.

A movimentação de usuários e traficantes afasta o público, diz Paulo Faria, diretor da companhia, "mas queremos trazer as pessoas para que elas vejam o que é a cracolândia", explica.

O contato com o espaço público é defendido por esses artistas como alternativa às ações policiais. Não é mera ação beneficente: eles também se alimentam dos conflitos no entorno para elaborar suas pesquisas de linguagem.

Na próxima montagem do grupo, por exemplo, uma cena de faroeste vai ocupar um trecho da rua do Triunfo.

A peça recuperará histórias da região, que nos anos 1970 foi reduto de produtoras de cinema. O quarteirão era conhecido como Boca do Lixo, ou Quadrilátero do Pecado, um lugar onde "prostitutas viravam atrizes e atrizes viravam prostitutas", diz Farias.

TESOURO

Em junho do ano passado, o grupo Teatro da Vertigem já havia criado, num terreno baldio ali perto, a intervenção "Cidade Submersa", com objetos enterrados sob destroços de um edifício demolido.

A intervenção fez parte da pesquisa do espetáculo "Bom Retiro 958 Metros". Em uma das cenas da peça, hoje em cartaz na região da Luz e do Bom Retiro, um usuário interage com uma pedra de crack gigante.

O grupo é uma das principais influências dos "Piratas de Galocha", diz Presto. O espetáculo teve a orientação de Antonio Araújo, diretor do Vertigem.

Para Presto, o trabalho na cracolândia funde ação política e pesquisa estética.

"Não pretendemos dizer como a região deve ser reorganizada", explica. "Apenas invadimos o espaço com uma ação teatral em que a rua passa a fazer parte da dramaturgia."


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