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Inédito teve publicação embargada em 92

Descobertos por pesquisador de Joyce menos conhecido, textos geraram reação violenta da academia britânica

"Nenhum estudioso que se preze poderá ignorar este livro", diz tradutor sobre obra apresentada por Danis Rose

Toby Hook/Divulgação
Lateral do Finn's Hotel, em Dublin, onde Nora, mulher de James Joyce, trabalhava quando eles se conheceram
Lateral do Finn's Hotel, em Dublin, onde Nora, mulher de James Joyce, trabalhava quando eles se conheceram
DE SÃO PAULO

As histórias por trás de "Finn's Hotel", livro inédito de James Joyce, são intrincadas como a obra do escritor irlandês.

Em outubro de 1992, a prestigiosa editora norte-americana Viking, do grupo Penguin, anunciou que publicaria um inédito de Joyce. A obra em questão seria "Finn's Hotel", estabelecida e apresentada por Danis Rose.

Toda a "joycesfera" entrou em ebulição. Sabia-se que Rose, um acadêmico pouco conhecido à época, trabalhava há 16 anos para realizar uma edição crítica de "Finnegans Wake", livro sobre o qual ele havia publicado um ensaio em 1982. Mas era tudo.

A reação ao "novo título" foi violenta. David Hayman, estudioso que publicara um dos livros mais importantes no estudo de "Finnegans Wake", o volume "The First Draft Version of Finnegans Wake" (1963), acusou Rose de tentar perpetrar uma "farsa".

Segundo ele, os textos apresentados à época como sendo o inédito "Finn's Hotel" seriam apenas esboços esparsos, em parte publicados no seu clássico estudo.

Diante dos questionamentos, o espólio de Joyce, que já havia assinado contrato com a Viking Press, pediu que cancelassem a publicação.

Rose argumentou em textos à época que por não ser parte do "establishment" oficial dos estudiosos de Joyce estava sendo boicotado.

E desde então veio travando algumas discussões públicas com o neto do escritor, Stephen Joyce.

Vinte anos depois dessa primeira aparição "pública", o "Finn's Hotel" que Rose publicará é uma obra diferente. Ao longo das décadas passadas, ele diz ter localizado novos episódios do conjunto.

Procurado pela Folha, Rose diz que se pronunciará sobre o livro só em janeiro.

Caetano Walfrides Galindo, professor da Universidade Federal do Paraná, diz que ainda que se possa questionar se "Finn's Hotel" era ou não um conjunto acabado que Joyce cogitou publicar, a série de 11 episódios é de importância fundamental.

"Nenhum estudioso de Joyce que se preze poderá ignorar esse livro."

Segundo Galindo -que pretende traduzir "Finnegans Wake"-, quando escreveu "Finn's Hotel", Joyce estava "tateando". "Hoje se sabe que ele começou a estruturar o 'Wake' em torno da história de Tristão e Isolda, e 'Finn's Hotel' é, de várias maneiras, um esqueleto do que 'Wake' viria a ser, uma forma de encaixar esse mito num quadro maior."

Rose brinca, em sua introdução, que se "Finnegans Wake" é uma cortina "Finn's Hotel" "é um furo nesta cortina". O estudioso afirma que todas as grandes obras de Joyce foram feitas "em dois passos". "Primeiro ele criava um texto ou conjunto de textos, no qual já apareciam seus personagens, depois ele abandonava tudo."

Em seguida, Joyce criava outro texto do zero, e "assaltava o armário" das ficções anteriores. "Finn's Hotel" seria destes textos "assaltados". Nele, aparece pela primeira vez, por exemplo, o personagem HCE (ou Here Comes Everybody), o "protagonista" de "Finnegans Wake".

"A estrutura de 'Finn's' pode ser vista como um microcosmo daquela de 'Wake'", diz Galindo. "É uma forma de ler um material curto, escrito numa linguagem mais simples que a de 'Wake', e que apresenta temas, personagens, e até elementos da 'trama'."


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