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No terreiro de Carybé

Publicação de conto inédito do pintor celebra encontro com a Bahia, terra onde o artista nascido na Argentina escolheu viver

Folhapress
O pintor Carybé, autor do conto "Iaba"
O pintor Carybé, autor do conto "Iaba"
MARCO RODRIGO ALMEIDA ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

O pintor Carybé, pode-se dizer, nasceu três vezes. A primeira em 7 de fevereiro de 1911, na Argentina, com o nome Hector Júlio Páride Bernabó. Uma segunda data é apontada por seus registros: 9 de fevereiro do mesmo ano.

A terceira foi 27 anos depois, em agosto de 1938, quando desembarcou em Salvador pela primeira vez.

Dos três, talvez o último fosse, para o artista plástico, o seu verdadeiro nascimento. Como escreveria mais tarde, na Bahia encontrou seu lugar como pintor.

A viagem foi determinante para Carybé e, não seria exagero dizer, para a Bahia.

Nas décadas seguintes, o artista, que morreu em 1997, aos 86 anos, produziria vasta obra (englobando pinturas, desenhos, esculturas e murais) que seria um dos grandes símbolos da "baianidade", tanto quanto a literatura de Jorge Amado e a música de Dorival Caymmi.

Para celebrar os 75 anos desse primeiro encontro entre o artista e a terra que o encantou, que serão completamos em 2013, o Instituto Carybé planeja várias ações.

A primeira delas acontece na próxima quinta (6), em Salvador, com o lançamento em livro de um conto inédito escrito por Carybé, "Iaba"

Os originais da obra foram descobertos no seu estúdio, na casa onde morou por quase 40 anos, no bairro Jardim Boa Vista de Brotas, em Salvador. Atualmente o local é de sede do Instituto Carybé.

Solange Bernabó, 59, filha do artista, acredita que a história tenha sido escrita no começo dos anos 1970.

A tal Iaba do título é uma diaba que assume a forma de "uma crioula enxuta" para seduzir o mulherengo Antonio, "inimigo pessoal do trabalho". Foi invocada no terreiro de Pai Cosme a pedido de Zulmira-Marrom, que fora abandonada por Antonio.

Iaba vem acompanhada por papagaio e porcos falantes. Não vai ter, é claro, problemas para fisgar Antonio. Difícil mesmo será resistir ao charme do conquistador.

O texto apresenta os mesmos temas que marcam a obra plástica do artista: mulatas, pescadores, candomblé, humor, sexo.

Em palavras ou tintas, a busca era a mesma: desvendar os mistérios e as delícias da alma baiana.

"Ele não deixou ilustrações para o texto, mas, se a gente for analisar, tudo o que fez na vida foi ilustrar os temas de 'Iaba'", diz Gabriel Bernabó Duarte, 41, neto do pintor.

A publicação tem patrocínio do grupo empresarial baiano LM.

CANDOMBLÉ

Embora só agora vá ser publicado, "Iaba" já havia sido traduzido para o inglês e o espanhol (embora não se saiba se foi publicado em outros países). Também inspirou o filme "A Força do Xangô", de 1977 (leia nesta página).

"Meu pai trabalhava muito, emendava uma coisa na outra. Acho que por isso nunca fez muito esforço para publicar o conto. Não tinha paciência para se dedicar a um só projeto", afirma Solange.

Fora do Brasil, os trabalhos de Carybé estão espalhados por museus, galerias e espaços públicos dos EUA, de Portugal, da Rússia e da Escócia, entre outros países.

O estúdio do artista guarda ainda desenhos, gravuras, xilogravuras, esculturas e 19 telas inacabadas. O instituto planeja em breve abrir o local para visitação pública.

Planeja também relançar livros escritos e/ou ilustrados por ele. A lista inclui raridades como a tradução de "Robinson Crusoé" feita por Julio Cortázar e ilustrada pelo pintor.

Seja qual fosse o projeto, tudo o que fez depois de 1938 parece tomado pelas cores e formas que descobriu na Bahia.

Em 1950, Carybé se mudou de vez para Salvador. Sete anos depois, se naturalizou brasileiro. Costumava dizer que não nascera na Bahia por falta de merecimento.

Talvez para compensar, quis o destino, ou os orixás, que morresse em um de seus lugares prediletos: um terreiro de candomblé. Após uma reunião, teve insuficiência respiratória. Segundo relatos, botou a mão no peito e exclamou: "Puta que pariu, me fodi".


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