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Crítica drama
Angelina Jolie não vai além do banal em filme sobre guerra na Bósnia
Diretora de "Na Terra de Amor e Ódio", atriz narra horrores do conflito por meio de história de amor à la Romeu e Julieta
Mais que uma atriz, Angelina Jolie é uma celebridade. Mesmo quando ela decide tirar de cena os belos traços e as boas qualidades de intérprete e ir para trás das câmeras, continua emprestando o nome para chamar a atenção para causas menos carnais.
Depois de ter estreado como diretora em 2007, com "A Place in Time", documentário que enfoca lemas como diversidade e senso de comunidade, Jolie realizou, em 2011, "Na Terra de Amor e Ódio", uma ficção sobre a sangrenta Guerra da Bósnia.
Ao contrário de alguns bons atores contemporâneos (Sean Penn, Ben Affleck) que transitam com talento equivalente para a função de realizador, Jolie enxerga a direção de modo semelhante a seus papéis de estrela. Em ambos, o cinema se resume a um veículo.
Nesse sentido, "Na Terra de Amor e Ódio" complementa suas viagens pelo mundo como embaixadora do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados).
Apesar de ficcional, o filme pretende ser um retrato fiel e, sobretudo, brutal do que se convencionou chamar "limpeza étnica", ou seja, a eliminação da população predominantemente muçulmana da Bósnia praticada pelos nacionalistas sérvios, de maioria cristã, durante a guerra que devastou a antiga Iugoslávia entre 1992 e 1995.
PRAZER PARA SÁDICOS
Em meio ao posicionamento indeciso das potências em relação a uma intervenção, houve registros de massacres de civis, retorno à Europa, desde o fim da Segunda Guerra, da prática de internação em campos de concentração, matança de cerca de 100 mil pessoas e estimativa de 50 mil mulheres violentadas.
"Na Terra de Amor e Ódio" procura reconstituir o cotidiano desse horror por meio da história de um casal à la Romeu e Julieta. Ele, sérvio, é um militar em dúvida sobre a brutalidade de seus pares, mas continua ao lado deles.
Ela, bósnia, é tomada como refém e testemunha as violências frequentes impostas a um grupo de mulheres.
O roteiro, também de autoria de Jolie, tenta alinhavar as situações pessoais em meio ao caos e cobrir os principais fatos na evolução do conflito, sempre pondo em destaque o sofrimento das vítimas.
O resultado não difere muito das centenas de filmes sobre o Holocausto, com os monstros nazistas de um lado, os judeus dizimados do outro, o algoz e a vítima, o mal e o bem.
Alimenta quem se satisfaz em ostentar indignação e oferece uma dose extra de prazer para os sádicos que gozam com o sangue que jorra em nome do realismo.