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Crítica Comédia
Paródia de filmes de gângster fica refém da falta de ideias
CÁSSIO STARLING CARLOS CRÍTICO DA FOLHAO COQUETEL DE REFERÊNCIAS NUNCA ALCANÇA A HABILIDADE DE UM TARANTINO, CAPAZ DE PROCESSAR FILMES DE A A Z NUM REMIX AUTORAL
Uma dose de álcool. Três litros de sangue. Dois copos de violência gráfica. Uma pitada de comédia. Misture tudo e sirva.
"Sete Psicopatas e Um Shih Tzu" segue uma fórmula, é como um filme McDonald's, algo que pode ser facilmente consumido por quem está com fome de entretenimento, mas que dificilmente se encaixa na lista do que chamaríamos de "delícia".
O dramaturgo britânico Martin McDonagh retoma recursos do bem-sucedido "Na Mira do Chefe", filme com que estreou na direção em 2008, combinando humor negro e trama policial em torno de uma confusão de papéis.
Desta vez, Colin Farrell faz Marty Faranan, um escritor em meio a um bloqueio criativo e que tenta avançar na produção de um roteiro intitulado "Sete Psicopatas".
Para conceber cada um dos matadores dessa ficção, o escritor acaba se envolvendo com criminosos que tomam de assalto sua imaginação.
A progressiva confusão entre os personagens da ficção do filme a que estamos assistindo e os personagens da ficção dentro da ficção que o roteirista escreve dá a chave humorística à trama. A este recurso se acrescenta a paródia de gêneros.
O alvo principal da reinterpretação cômica são os filmes sobre assassinos em série e as tramas de gângsteres, como "Cães de Aluguel" e "Os Suspeitos".
A ênfase na caricatura, nas características físicas, de falar ou de se vestir, torna explícita a repetição de tipos e situações mil vezes revistos.
A escolha de atores como Woody Harrelson e Christopher Walken, a aparição em pequenos papéis de Harry Dean Stanton e Tom Waits ou a eliminação sumária de Michael Pitt transformam a trama num jogo cujo prazer consiste em reconhecer as alusões e projetar uma aura de "astúcia" e de "elaboração".
O coquetel de referências, no entanto, nunca alcança a habilidade de um Tarantino, capaz de processar centenas de filmes de A a Z num remix autoral e popular.
A opção por tratar a história ao modo de Tarantino impõe comparações que fazem "Sete Psicopatas e Um Shih Tzu" parecer sempre um exercício, o trabalho de iniciante tentando imitar um estilo que considera o máximo.
Tal como Marty Faranan, seu duplo ficcional, o roteirista e diretor Martin McDonagh aqui ficou refém da falta de ideias.