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Crítica Comédia
Homenagem a Woody Allen tem resultado decepcionante
ALEXANDRE AGABITI FERNANDEZ COLABORAÇÃO PARA A FOLHAOs franceses adoram Woody Allen. E a recíproca é verdadeira, pois não é raro que filmes do nova-iorquino estreiem antes na França do que nos Estados Unidos.
Assim, não surpreende a fixação de Alice (Alice Taglioni), personagem central deste primeiro longa de Sophie Lellouche, pelo cineasta. O que espanta é a presença de Allen em carne e osso em uma decepcionante comédia como "Paris-Manhattan".
Alice parece realizada trabalhando como farmacêutica. Mas ainda não encontrou sua alma gêmea.
Ela tem fama de excêntrica pela devoção a Woody Allen e por "prescrever" os filmes dele no lugar de medicamentos aos seus clientes na farmácia. Mas Alice mostra ser mais maluca do que parece ao "conversar" com o imenso pôster do diretor que tem pendurado no quarto.
No fundo, Alice não parece sofrer muito com a situação. Quem não se conforma com isso são os pais, que vivem apresentando pretendentes -rapidamente descartados pela filha.
Uma esperança surge quando ela conhece Victor (Patrick Bruel), um homem desiludido com o amor que ganha a vida instalando bizarros alarmes contra roubo.
O grande mérito de Victor é nunca ter visto um filme de Allen e não ter pinta de almofadinha como outros candidatos, mas no fim das contas também não se salva: as máximas que usa para tentar seduzir Alice beiram o ridículo.
Para piorar, Taglioni e Bruel não têm o carisma exigido pelos papéis. São mornos, não conseguem convencer como casal em potencial.
Algumas situações em que se metem podem até ser divertidas isoladamente, mas não ajudam a construir algo mais sólido entre ambos. A irrupção de Woody Allen, no desfecho que impressiona pela previsibilidade, é incapaz de arranjar as coisas.
O roteiro também perde o foco e o ritmo ao derivar em tramas paralelas que põem em cena mazelas familiares como o alcoolismo da mãe de Alice, as manias da irmã dela e o romance da sobrinha com um rapaz misterioso.
Woody Allen foi muito gentil ao aceitar o convite de uma diretora iniciante. Mas não deve ter se dado ao trabalho de ler o roteiro.