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Crítica Drama

"Hitchcock" reduz cineasta à caricatura

Filme sobre os bastidores de "Psicose" dilui o foco e dispersa interesse do público pelo diretor

Filme só apresenta tipos, sem nunca revelar algum aspecto revelador da pessoa atrás da persona

CÁSSIO STARLING CARLOS CRÍTICO DA FOLHA

Para que servem os "biopics", os filmes que representam, segundo os códigos da ficção, situações vividas por celebridades?

De um lado, funcionam como entretenimento, ao dramatizarem histórias ricas em peripécias, amores, descobertas e perdas.

De outro, podem agregar sentido e até mesmo conhecimento, quando capazes de se libertar do demônio da fidelidade e reinterpretar o "original", explorando aspectos que iluminam o humano por trás do renome.

Indeciso de seguir uma ou ambas possibilidades, "Hitchcock" é o típico filme que não serve para nada.

Na origem do projeto, está o valioso trabalho de pesquisa realizado pelo escritor norte-americano Stephen Rebello em"Alfred Hitchcock e os Bastidores de Psicose" (recém-lançado no Brasil pela editora Intrínseca).

Os riscos assumidos pelo diretor, aos 60 anos de idade, ao insistir em realizar "Psicose", os enfrentamentos com o estúdio Paramount e a censura, os bastidores da elaboração do roteiro, das escolhas de elenco e as inovações narrativas são reconstituídos em ritmo de thriller por Rebello.

Na adaptação assinada pelo roteirista John J. McLaughlin, os aspectos profissionais da feitura de "Psicose" se misturam a situações livremente ficcionais.

Entre as quais estão um quase-caso extramatrimonial de Alma, mulher e parceira criativa do cineasta, e uns delirantes diálogos de Hitchcock com Ed Gein, o serial killer cuja história inspirou o romance adaptado pera o cinema em "Psicose".

Tais "liberdades", em vez de agregarem intensidade dramática ou humor paródico, diluem o foco e dispersam o eventual interesse do público pelo biografado.

Incapaz de lidar com as múltiplas camadas de seu personagem, "Hitchcock" reduz o cineasta britânico à caricatura, fazendo apenas suceder tipos (o soberbo, o algoz, o tarado, o mimado, o ranzinza), sem nunca conseguir nos fazer crer em algum aspecto, mesmo que inverídico ou maldoso, revelador da pessoa atrás da persona.

Em razão disso, recomenda-se a quem queira conhecer Hitchcock ir direto ao original. "Psicose" passa neste domingo na Sala Cinemateca e no filme se podem encontrar muitos Hitchcocks escondidos dentro de cada um de nós.


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