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Autor levou verve poética para a crônica

Companhia das Letras publicará poemas de Mendes Campos, há décadas fora de catálogo, além de traduções

Detentora do acervo de PMC, Instituto Moreira Salles estuda desenhos e cadernos de anotações do cronista mineiro

DA COLUNISTA DA FOLHA

Paulo Mendes Campos, o mais reservado dos "quatro mineiros" -grupo que formava com os amigos Fernando Sabino, Otto Lara Resende e Hélio Pellegrino-, foi antes de tudo um poeta.

Seu primeiro artigo para jornal, em 1939, em sua Belo Horizonte natal, foi sobre um poeta, Raul de Leoni.

O primeiro livro, "A Palavra Escrita", editado pelos poetas Thiago de Mello e Geir Campos, saiu com 126 cópias em 1951, tendo depois seus versos reeditados em "O Domingo Azul do Mar", de 1958.

Destacou-se também traduzindo outros poetas, como o chileno Pablo Neruda e o francês Paul Verlaine.

Esse material, versos próprios e traduzidos, será editado pela Companhia das Letras, que também prevê um volume com aforismos -PMC era autor de máximas como "O brasileiro adia, logo existe" e "É como dizia Freud: morreu, babau" (esta assinada pelo "colunista do morro").

Foi depois de deixar Belo Horizonte rumo ao Rio, aos 23 anos, em 1945 -para conhecer Neruda, que por lá andava-, que PMC chamou atenção com crônicas, em veículos como o "Correio da Manhã", o "Jornal do Brasil" e a revista "Manchete".

"Quando chegou ao Rio, ele se soltou mais, ficou mais íntimo da vida", lembra o jornalista Wilson Figueiredo, 87, que também migrou de Belo Horizonte para o Rio.

"Nunca senti a vocação do romance e do conto", disse Paulo Mendes Campos a "O Estado de S. Paulo", em 1985. "Tentei escrever uma novela; lá pela metade, o Dostoiévski que eu esperava de mim se esvaiu na cesta das risadas."

PROSA POÉTICA

O autor acabou levando para a crônica sua verve poética. "O vínculo pessoal e afetivo dele era com a poesia", diz o editor Flávio Pinheiro.

"Ele fazia essa coisa rara que é uma superprosa poética -gênero que ficou com reputação ruim porque muitos pensam que prosa poética é açucarada, mas, na melhor tradição, ela é riquíssima."

Pinheiro engrossa o coro dos que consideram PMC o mais sofisticado dos "quatro mineiros". "Ele era o mais preparado, o mais erudito", diz o jornalista Humberto Werneck, que conta a história dos cronistas mineiros do século passado em "Desatino da Rapaziada" (Companhia das Letras).

PMC foi também o único a não se casar com uma herdeira -escolheu Joan, inglesa com quem teve dois filhos-, o que o obrigou a dividir a escrita literária com o funcionalismo público e a redação de roteiros publicitários.

REEDIÇÃO

Pinheiro fez uma opção ousada ao editar PMC na Civilização Brasileira. Desfez edições como "O Cego de Ipanema" (1960) e "Homenzinho na Ventania (1962), montadas pelo cronista para a Editora do Autor, e organizou títulos temáticos -algo que a Companhia das Letras segue agora.

"Ele publicava crônicas conforme as escrevia. Dada a atemporalidade delas, dividi por temas", afirma. Lançou títulos como "O Gol É Necessário", sobre futebol (PMC era um grande atacante, dizem), e "Alhos e Bugalhos", com textos humorísticos.

"Diário da Tarde", livro publicado em 1981 pela extinta Massao Ohno e há décadas fora de catálogo, mostra que PMC também gostava de pensar suas edições. Criado como "um livro a ser folheado num lindo dia de chuva, à falta de uma boa pilha de revistas antigas", é um jornal inventado pelo escritor. É composto de 20 edições, cada uma dela com oito seções.

A Companhia lançará o título na Flip em formato de jornal, emulando os periódicos cariocas dos anos 60, com fotos e desenhos do autor. A ideia é que custe cerca de R$ 2. Só depois sairá em edição normal, tal como em 1981.

O título será editado com o apoio do Instituto Moreira Salles, onde está, desde 2011, o acervo do escritor. As pesquisadoras Elvia Bezerra e Katya de Moraes -que identificaram as datas das crônicas nas edições lançadas a partir de agora- trabalham agora em cadernos e desenhos de PMC. Desse material podem sair ainda novas edições. (RAQUEL COZER)


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