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Cinema de Samuel Fuller ganha mostra em São Paulo
Festival no CCBB apresenta filmes do radical e subversivo diretor americano
Autor de filmes como 'Anjo do Mal' e 'Paixões que Alucinam', ele foi influência para Godard, Sganzerla e Tarantino
Samuel Fuller (1912-1997) foi um dos mais radicais diretores do cinema norte-americano. Fez filmes esteticamente corajosos e tematicamente subversivos.
Foi repórter policial e levou uma linguagem de tabloide sangrento para as telas de cinema. Depois, lutou na Segunda Guerra Mundial e ajudou a libertar campos de concentração. Essa experiência marcou a vida e os filmes do diretor.
Fuller fez faroestes, policiais "noir", dramas e filmes de guerra, sempre com um estilo direto e pessoal. Odiava a assepsia do cinema comercial, que julgava "coisa de criança".
Influenciou a nouvelle vague (Godard o escalou para uma ponta em "O Demônio das 11 Horas", de 1965), Scorsese (os closes das lutas de boxe em "Touro Indomável", de 1980, são puro Fuller) e, mais recentemente, Quentin Tarantino.
Aqui no Brasil, os saudosos Rogério Sganzerla (1946-2004) e Carlos Reichenbach (1945-2012) eram fullermaníacos de carteirinha.
O CCBB de São Paulo está fazendo uma mostra completa e imperdível de Samuel Fuller. São 24 filmes dirigidos por ele, e dois documentários sobre o cineasta.
A mostra depois segue para Brasília (26 de março a 14 de abril) e Rio de Janeiro (16 de abril a 5 de maio).
Hoje, às 18h (com reprise domingo, também às 18h), será exibido "Cão Branco" (1982), história impressionante sobre uma moça que acha um cachorro na rua e descobre que ele havia sido treinado para atacar negros.
É um filme típico de Fuller, um criador capaz de usar histórias banais para tratar de grandes temas.
Outra obra-prima é "Paixões que Alucinam" (1963), sobre um jornalista que se finge de louco para investigar maus-tratos dentro de um hospício. O que começa como um filme policial corriqueiro vira um pesadelo psicodélico e paranoico.
Um dos destaques da mostra é o documentário "Tigrero" (1994), de Mika Kaurismäki, em que Fuller conta ao diretor Jim Jarmusch sobre uma viagem ao Brasil, nos anos 50, quando tentou -e não conseguiu- fazer um filme sobre os índios Carajás.
A filha de Samuel Fuller, Samantha, está terminando um documentário sobre o pai, incluindo imagens inéditas de arquivo que achou no escritório dele.
"Meu pai sempre foi um repórter", diz ela. "Por toda a vida, filmou tudo que acontecia com ele. Quando morreu, achei mais de cem rolos de filme, com imagens inéditas dele na Segunda Guerra e em bastidores de filmagem. Será o meu tributo a ele."