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Diário do Rio
O MAPA DA CULTURA
Na orla, os cocos ardem
Altas de valor e calor num Verão $urreal
O verão só acabou na folhinha. No Rio ele costuma entrar março adentro, com chuvas fortes no fim da tarde, nem sempre com temperaturas menos elevadas, mas com praias mais vazias --a petizada já retornou às aulas, e os turistas, como a torcida do Botafogo, estão em menor número. O que o carioca ainda não sabe é como apelidar a estação: Verão do $urreal ou Verão da Bermuda?
Se perguntar na esquina, é batata: o Rio é hoje a cidade do mundo que mais dói no bolso. Duas pesquisas recentes mostram que comer fora de casa, aqui, é mais caro que no resto do país (R$ 37,16, contra a média nacional, de R$ 30,14) e que o aluguel de um apartamento de dois quartos em Ipanema aumentou 410% desde 2008.
No auge do calor, os preços deram um foguete. Um exemplo é ilustrativo: o coco, na orla das praias da zona sul, bateu R$ 10. O carioca reagiu, com humor, criando uma nova moeda: o $urreal. Passou a fazer campanha nas redes sociais contra práticas escorchantes, denunciando-as.
Não demorou e surgiu um símbolo da luta: o "isoporzinho", bolsa térmica com latas de cerveja, sucos ou lanches. Até o casal Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert aderiu à novidade, nas areias em frente à rua José Linhares, no Leblon.
Só faltou a farofa, com a qual os suburbanos eram identificados na praia. Mas teve "sacolé", picolé de frutas artesanal dentro de pequenos sacos plásticos, na versão pura ou batizada com cachaça ou vodca. E até piscininha de plástico e banho de mangueira em festas descoladas. A classe média, enfim, chega ao paraíso.
ABAIXO A CALÇA COMPRIDA
Com calor de rachar catedrais, o carioca andou avesso: pedindo frente fria e chuva. E convencido de ir ao trabalho de bermuda, antiga reivindicação que assumiu ares de movimento organizado. Não uma bermuda qualquer: estilistas recomendaram uma linha mais safári, manja?
Calças curtas, é claro, têm mais a ver com o clima da cidade. Mas, fora uma ou outra empresa moderninha, não houve jeito. A ditadura da calça comprida para homens continua mandando.
Um funcionário público resolveu radicalizar: vestiu uma saia longuete xadrez, preta e branca --"discreta", segundo ele-- mas mesmo assim foi barrado no Centro Administrativo do Estado do Rio. Um aluno da Fundação Getúlio Vargas levou mais sorte: os seguranças, sem ação, o deixaram entrar de saia pelas canelas. Maior elegância. Quem sabe no ano que vem a moda pega?
SEM CAMISINHAS
O que passou não foi um Carnaval de "importância histórica", como previu na "Ilustrada" o escritor Michel Laub. Mas teve lá os seus momentos. Como a promoção de uma marca de camisinha no meio do bloco Sargento Pimenta, que desfilou no Aterro do Flamengo. A intenção era instalar "uma cápsula do prazer", que poderia ser usada por casais na folia. Mas a estrutura não tinha alvará da Secretaria Especial de Ordem Pública, e a brincadeira gorou.
Nada que chocasse o arquiteto Nireu Cavalcanti, que mergulhou na pesquisa de documentos para escrever o recém-lançado "Histórias de Conflitos no Rio de Janeiro Colonial" [ed. Civilização Brasileira, 336 págs, R$ 50]. Nele revela-se que, em 1807, foi apreendido na alfândega um contrabando de 1.716 camisinhas (ou "saquinhos de pele fina"). Mais uma vez, empataram a festa.
LUPA NA LAPA
Na história do samba, possivelmente não há bairro mais citado do que a Lapa e, pelo visto, vai continuar como fonte de inspiração por um bom tempo. Que o diga Moyseis Marques, cantor e compositor ligado ao ressurgimento musical daquele pedaço de terra de ninguém cortada pelos Arcos.
No CD "Casual Solo" --produção independente gravada na Califórnia, que pode ser encomendada no site do artista, moyseismar ques.com.br--, a voz de Moyseis passeia na intimidade de dez canções, repertório que mistura Toninho Horta e Luiz Carlos da Vila a Ray Noble e Bob Marley.
Pois lá está "De Lupa na Lapa", recente parceria do cantor com o letrista Mauro Aguiar: "Quem vagou na Mem de Sá/ Sabe onde tá o tal filé/ Um capilé e toma lá, dá cá/ É como é/ O nosso mafuá".