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Diário de Pequim

O MAPA DA CULTURA

A China que faz "psiu!"

Querem calar artistas na rede e vovós na rua

MARCELO NINIO

Depois de ter mais de cem contas apagadas pela censura no microblog Weibo, o Twitter chinês, o artista Gao Zhen decidiu migrar.

Ele continua vivendo e trabalhando em Pequim, onde costuma receber convidados em seu estúdio povoado de obras que ridicularizam Mao Tse-tung, símbolo máximo do regime chinês. A mudança foi virtual: Gao, 58, transferiu seus comentários ácidos sobre o governo para o WeChat, o aplicativo de mensagens de celular que é uma febre na China e a ferramenta de comunicação mais usada no país.

Ali, o artista compartilha com amigos e seguidores imagens, reflexões e mensagens políticas que teriam vida curta no Weibo, como esta, por exemplo: "A chamada ditadura democrática popular é uma contradição tão grande como dizer que guerra é paz', liberdade é escravidão' e ignorância é poder'".

Ele é o mais velho dos dois irmãos Gao, que assinam suas obras em conjunto e estão entre os artistas plásticos chineses mais conhecidos internacionalmente.

A campanha contra "rumores" lançada no ano passado pelo governo aumentou a censura no Weibo e estimulou a debandada para o WeChat, menos vigiado. E não foi só entre dissidentes, artistas, jornalistas e blogueiros.

Enquanto o Weibo perdeu 27 milhões de usuários em 2013, caindo para 280 milhões, o WeChat cresceu mais de 30%, alcançando a marca de 355 milhões.

Num país em que a imprensa e as informações são severamente controladas pelo Estado (Facebook e Twitter são bloqueados), uma rede social de sucesso mobiliza milhões e logo vira fenômeno.

Um primeiro encontro na China ainda inclui a troca de cartões de visita, entregues com as duas mãos, mas agora o ritual é acompanhado pelo emparelhamento dos celulares ou pela chacoalhada dos aparelhos, que servem para a interligação instantânea.

"Você usa WeChat?", indaga Gao Zhen assim que a reportagem da Folha adentra seu estúdio. O cartão de visitas dos irmãos Gao está logo na entrada: a impactante obra "A Execução de Cristo", em que sete estátuas de Mao em tamanho natural empunhando fuzis cercam um Jesus acuado e seminu.

Conhecido na China como Weixin, o aplicativo foi lançado em 2011 pelo gigante chinês Tencent e deve seu estrondoso sucesso aos recursos que juntam sistema de mensagens e rede social, uma mistura de WhatsApp e Facebook, com alguns toques de Twitter. Como é uma rede de amigos, ele tem alcance menor que o Weibo, mas já começa a preocupar o governo. Em março, dezenas de contas foram bloqueadas pela censura.

O QUE OS CHINESES LEEM?

Encerrada há poucos dias, a Feira do Livro de Pequim atraiu 600 mil visitantes em dez dias e totalizou cerca de R$ 14 milhões em vendas. O livro na China custa barato, R$ 10 em média, e a autoajuda e a cultura pop dominam o mercado.

Na lista dos best-sellers das principais livrarias de Pequim, dois dos três primeiros colocados partem de programas de TV campeões de audiência: o drama político norte-americano "House of Cards" e o reality show chinês "Papai, para Onde Vamos?".

PAI HERÓI

A primeira temporada do reality bateu recordes de popularidade e foi o programa mais visto no país em 2013, com uma fórmula simples: cinco pais famosos têm que se virar sozinhos com os filhos pequenos numa ilha por 72 horas.

"Papai, para Onde Vamos?" virou uma máquina de fazer dinheiro --com audiência de 600 milhões de pessoas a cada episódio, sendo logo apontado como o programa mais assistido do planeta. Ninguém espera menos da segunda temporada, que estreia em breve.

VOVÓS DO BARULHO

Uma das atividades de rua mais tradicionais na China está sob ameaça do mau humor. É a dança das vovós, que ocupa praças e outros espaços públicos de manhã e no fim da tarde. A imprensa tem noticiado uma série de incidentes envolvendo vizinhos revoltados com o volume da música. Um deles jogou fezes nas vovós, outro soltou os cachorros em cima delas. Em Pequim, saiu até tiro para o alto durante uma discussão.

Mas as vovós têm apoio suficiente para continuar comprando o barulho: segundo o jornal "Global Times", há 100 milhões de dançarinos de rua no país.


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