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Diário do Rio

O MAPA DA CULTURA

Futurologia no Castelo

O "point" dos cronistas e o "app" do Machado

ALVARO COSTA E SILVA

Até seu desmonte em 1922, o morro do Castelo abrigava nas humildes casas muitas adivinhas. Elas sabiam de tudo, mesmo de política, e, em época de eleição, indicavam qual daqueles inacreditáveis candidatos seria o melhor para a cidade.

Tanto que Machado de Assis põe uma delas na primeira página de seu penúltimo romance, não tão falado mas excelente "Esaú e Jacó". Bárbara, conhecida como "a cabocla", recebe Natividade, senhorinha da rica sociedade de Botafogo. Esta quer descobrir o destino dos filhos gêmeos, Pedro e Paulo, que tinham acabado de nascer. Bárbara fuma, mira o retrato dos dois, anuncia: "Cousas futuras!".

Outro escritor carioca, mulato como Machado, volta agora àquele local para contar mais uma história em que o Rio, apesar de católico desde a primeira missa em que aqui se rezou, mostra seu lado de culto lateral, sempre existente e resistente. Em "Uma Ladeira para Lugar Nenhum" [Record, R$ 32, 160 páginas], Marco Carvalho --nascido em Vila Isabel, cartunista do velho "O Pasquim"-- conta o enlace do padre Ernesto com a mulata Rosário, que fazem combinar a batina e o pano da costa entre os escombros do morro.

Nas orelhas, Nei Lopes lembra que a área ampliada virou simplesmente o Castelo. Nos anos 1950, com o funcionamento ali da "esplanada dos ministérios", era de frequência obrigatória. Abrangia o Rio que importava, limitado ao norte pela r. São José, ao sul pela av. Beira-Mar, a oeste pela av.Rio Branco e a leste pela Perimetral (que também veio, graças aos céus, abaixo). No fim da tarde ali se reuniam, em escondidas uisquerias, os cronistas que relataram a vida íntima da cidade.

A SAIDEIRA

Depois eles esticavam nos bares da orla. Em busca de assunto, como Antonio Maria, autor de uma seção chamada "Romance Policial de Copacabana". Ou Carlinhos Oliveira, que eterno deslumbrado com a cidade grande, jamais deixou de ser o menino que recém-chegado de Vitória (ES) espantou-se: "Mulheres ao volante!".

Esse tipo de cronista quase não há mais, substituído por aquele que dá opinião, de preferência sem botar o pé na rua. Mas, se continuasse a existir como antes, ele bateria ponto no Galeto Sat's (r. Barata Ribeiro, 7). Fica quase na esquina da av. Prado Júnior, centro nervoso da Copacabana noturna.

Atualmente é a melhor saideira do Rio. Só fecha às cinco da matina. Além dos franguinhos (mais de cem são servidos por dia), o coração de galinha e a linguiça de bacalhau forram o estômago.

Mas o melhor mesmo --para o aspirante a cronista da madrugada-- é a galeria de personagens: o político decadente, a dançarina de "collant", o ex-craque da pelada na areia, a cartomante vesga. Cada qual com promessa de história estampada no rosto cansado.

FORMAS E CORES

No Posto 6 ficava o Cassino Atlântico, elegante edifício "art déco" frequentado pela alta sociedade da então capital federal. Antes de ser demolido, ali funcionou a sede da TV Rio. Em seu lugar ergueram um shopping apinhado de antiquários e, mais tarde, galerias com artistas modernos.

A maioria das lojas hoje se dedica à arte contemporânea, com destaque para as galerias Inox, Movimento e Marcia Barrozo do Amaral. A primeira tem trabalhos realizados na célebre fábrica de faianças portuguesa Bordallo Pinheiro, assinadas por Tunga, Barrão, Regina Silveira e Tonico Lemos. A Movimento abriga as obras do grafiteiro Toz, autor do maior mural já feito na cidade --na zona portuária. Marcia Barrozo é endereço certo para se deslumbrar com a pintura e o desenho de Roberto Magalhães e os estudos de forma e cor de Manfredo de Souzaneto.

APLICATIVO MACHADIANO

O conselheiro Aires, que narra "Esaú e Jacó", ia pensar na vida na mesma Copacabana do cassino e do Sat's. A cidade em que ele viveu está em um novo aplicativo gratuito para celulares e tablets, que mapeia cem endereços que aparecem nos romances de Machado de Assis. A ferramenta integra o projeto Rio de Machado, do MAR (Museu de Arte do Rio).

Percorremos a rua do Ouvidor, o Catete, o cemitério de São João Batista. O geolocalizador só falta nos entregar o local onde Capitu e Escobar se encontravam.


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