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Análise
Vantagens de um acordo vão além dos benefícios econômicos
EUA e Europa podem, combinando seu poder de atração, determinar os padrões para o resto do mundo
O lançamento formal das negociações de um acordo transatlântico para comércio e investimento é uma oportunidade para os dois blocos aprofundarem seus laços econômicos e perpetuarem, juntos, sua dominância da economia global.
Mas o fato de o lançamento ter sido quase abatido na decolagem mostra os obstáculos que os EUA e a União Europeia terão de superar para conseguir algo de significado duradouro.
David Cameron, o premiê britânico, estima que os benefícios de um acordo sejam de quase 100 bilhões de libras (R$ 335 bilhões) para cada uma das partes envolvidas (EUA, UE) e no mesmo montante para o resto do mundo.
Não é prêmio pequeno, embora chegue a apenas 1%, aproximadamente, do PIB anual de cada bloco.
Mas a verdadeira recompensa de um acordo tão amplo vai além dos benefícios econômicos: inclui o impulso à inovação, em uma escala que só o acesso a mercados maiores dá às economias. Com um acordo sério em vigor, ambos os lados devem se beneficiar de uma tendência de expansão de longo prazo.
A mudança do centro de gravidade da economia global para a Ásia não pode ser freada, mas um tratado amplo pode atrasar parte desse impacto na zona de influência euro-americana.
Integrando seus mercados agora, EUA e Europa podem, combinando seu poder de atração, determinar os padrões para o mercado no resto do mundo. Isso se fortaleceria com a abertura do acordo para outros países, como o Canadá e o México, quando (e se) estiverem prontos.
A crítica comum de que os acordos comerciais bilaterais solapam o comércio global tanto quanto criam novos fluxos tem pouco sentido quando os dois lados em questão já cobrem metade do mundo.
O lançamento foi ameaçado, ontem, pela insistência da França em manter temas culturais fora da mesa.
Mas a exceção cultural não é algo "culturalmente extremamente reacionário", como diria o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso. É uma política razoável querer criar nichos comerciais que não impeçam a cultura americana de ser consumida e amada por milhões de europeus.
É, no entanto, um erro de Paris pedir que produtos culturais nem sequer cheguem à mesa de negociações. O único efeito de exigir concessões antes mesmo de o diálogo começar costuma ser impedi-lo de iniciar. A Europa deveria, em vez disso, tornar a questão da cultura uma prioridade especial durante o diálogo --o que significa oferecer aos EUA algo em troca.
Os líderes precisam se esforçar para buscar o acordo mais amplo possível. A força de vontade deve permanecer inabalável: ela será testada durante todo o processo.