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Em Portugal, ex-servidor reclama de austeridade
Funcionário público foi demitido em 2012, vítima dos cortes do governo
Sem curso superior, José Freitas vê poucas chances de arrumar trabalho no país, onde desemprego é de 17,6%
A fila na calçada só aumentava. Ao meio-dia de uma tarde de junho, o ex-servidor português José Freitas, 60, esperava para ser atendido em um centro de apoio a desempregados em Lisboa.
Ansioso, ele segurava uma pasta com os seus documentos e checava o relógio a cada duas perguntas.
Estava lá desde as 9h e não sabia quando seria chamado para tentar uma oportunidade de trabalho. "É a crise", disse ele, olhando para a fila. "Eu nunca imaginei isso a acontecer a Portugal."
Depois de 14 anos no setor de recursos humanos do governo, Freitas perdeu o emprego em dezembro de 2012. Foi uma das vítimas dos cortes que, até o fim deste ano, podem atingir mais 50 mil funcionários públicos.
Ele diz estar disposto a trabalhar até como gari. "Já deixei pedido para trabalhar na limpeza das ruas. Mas só o que dizem é que não há trabalho", lamentou.
O português repete um discurso comum nas ruas de Lisboa: ataca as políticas de austeridade e acusa o governo do país de se subordinar à troika composta por Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional.
"Os sacrifícios que nós fazemos ninguém vê. Tudo é tirado do povo, nós é que pagamos", afirmou Freitas.
"A troika é quem está a mandar em Portugal. Cada vez há mais pobres, e eles não se importam."
Aos 60 anos e sem ter feito curso superior, Freitas vê pouca chance de arrumar trabalho. De acordo com dados oficiais, o índice de desemprego em Portugal chega a 17,6%. Entre os jovens de até 25 anos, a taxa sobe para 42,1%.
"O país está podre. Nenhum jovem arranja trabalho, nem licenciado e com canudo [diploma]. Quem pode vai para o estrangeiro", disse o ex-servidor público.
Desde que foi demitido, Freitas e a sua mulher vivem com a ajuda de amigos e com o seguro-desemprego que ele recebe, de € 250 (cerca de R$ 730). "É melhor do que nada, do que ficar a andar às ruas", afirmou.
"Se não se pode comer bife, come-se um prato de sopa. O que há de fazer?"