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Análise
Impacto da alta do dólar nas empresas deve ser avaliado além do curto prazo
FERNANDO CAIO GALDI ESPECIAL PARA A FOLHAA recente alta do dólar causa impactos imediatos nos balanços das companhias, mas também pode trazer efeitos de médio e longo prazos que valem ser detalhados.
Empresas que possuem endividamento na moeda norte-americana são imediatamente sensibilizadas, pois o aumento do dólar faz com que seja registrado um montante referente a essa variação cambial no resultado do trimestre, com consequente elevação da dívida em reais.
Portanto, se a empresa tem dívidas a serem pagas em dólar, apresentará uma despesa de variação cambial decorrente da alteração da taxa.
O raciocínio inverso vale para as empresas que tenham recebíveis dolarizados já reconhecidos em suas demonstrações financeiras, como as exportadoras. Nesse caso, surge uma receita de variação cambial. Portanto, o impacto líquido na posição patrimonial da empresa depende da exposição em dólar, considerando seus passivos e ativos indexados à moeda norte-americana.
Contudo, é importante notar que, para algumas empresas, o movimento de alta e o timing de recebimentos ou pagamentos de seus ativos ou passivos indexados à moeda norte-americana pode trazer --ou não-- influências de médio e longo prazos nas entidades. Esses impactos seriam sentidos se o nível de preço da moeda americana de fato permanecer --ou aumentar ainda mais. A situação favoreceria as empresas com foco no mercado externo, pois a tendência é que fiquem mais competitivas.
Por outro lado, poderia prejudicar uma empresa que tem suas atividades focadas no mercado interno, mas possui endividamento em dólar.
Há ainda a situação de empresas que têm dívidas indexadas com prazos longos de vencimento, mas que também possuem os recebíveis a serem gerados pelo fluxo contínuo de exportações.
Do ponto de vista econômico, elas estariam relativamente protegidas da variação cambial, pois os pagamentos da dívida (sujeitos à variação cambial) seriam contrabalançados pelas exportações futuras e os consequentes recebimentos indexados ao dólar.
Contudo, do ponto de vista contábil, surge um descasamento, pois o montante principal da dívida já está reconhecido nas demonstrações financeiras, enquanto as exportações futuras ainda não estão, mas serão quando forem efetivadas.
Para resolver esse descasamento, existe a possibilidade de as companhias adotarem um mecanismo denominado contabilidade de hedge (proteção) e, com isso, fazer com que as demonstrações financeiras reflitam de maneira mais adequada a realidade econômica. No segundo trimestre, vimos que o mecanismo foi implementado por algumas empresas brasileiras.