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Depois do vendaval

Encolhimento do império de Eike Batista muda rotina da empresa, que agora tem novo "grupo de elite"

RENATA AGOSTINI DE BRASÍLIA MARIANA SALLOWICZ DO RIO

Em 2011, quando ostentava o título de homem mais rico do Brasil, o empresário Eike Batista gabou-se a uma plateia de investidores no Rio: "Às vezes, você bota um idiota para trabalhar com você. Mas eu sou um polvixa', mistura de polvo e lagartixa. Se um dos meus braços direitos cai, surge outro no lugar".

O poder de regeneração de Eike nunca foi tão testado quanto nos últimos meses, desde que seu "império X" começou a desmoronar. Executivos pediram as contas, outros foram demitidos e discussões tornaram-se constantes: o clima nunca esteve tão tenso no 22º andar do Edifício Serrador, prédio histórico do centro do Rio, comprado por Eike para abrigar as companhias de seu grupo.

É de lá, numa ampla sala apelidada de "aquário", com colunas e paredes de vidro, que Eike, cercado de seus principais assessores, tenta salvar o que sobrou do grupo. A rotatividade no aquário tornou-se intensa. Apenas na holding EBX, Eike perdeu cinco de seus principais executivos nas últimas semanas.

Nomes que acompanhavam Eike há muitos anos cansaram-se do alto grau de estresse imposto pelo empresário e das mudanças constantes nos rumos do grupo.

O primeiro a sair foi Otávio Lazcano, que exerceu diversas funções nas empresas X. Há pouco mais de duas semanas foi a vez de Joel Rennó Júnior, diretor financeiro da EBX, e Luiz Arthur Correia, conhecido como "Zartha", diretor de investimentos da holding. Os dois pediram demissão no mesmo dia.

As outras baixas deram-se com a chegada de Ricardo Knoepfelmacher, o Ricardo K, sócio-fundador da Angra Partners. O executivo, contratado há três semanas para auxiliar Eike na reestruturação da dívida do grupo, tornou-se uma espécie de interventor, com poderes para negociar com credores e demitir.

No limite, Ricardo K poderá conduzir a recuperação judicial do grupo --cenário que, conforme antecipou a Folha, é tratado como possível perante a dificuldade de caixa das empresas de Eike.

Para ajudar o empresário a renovar seus "braços", chegaram à sede da EBX cerca de quinze executivos trazidos por Ricardo K. Além de preencher o vácuo de diretores que deixaram o grupo, eles passaram a executar tarefas antes delegadas à equipe do BTG Pactual, de André Esteves, que havia fechado, no início do ano, uma parceria com Eike para ajudá-lo a reerguer seus negócios.

O banco chegara a alocar mais de 20 pessoas no Serrador para o início da reestruturação. A parceria, contudo, azedou, e a equipe de Esteves deixou o dia-a-dia do grupo.

A substituição de equipes foi traumática para quem estava na empresa. A Folha apurou que K vem estimulando uma "limpa". Ele entrou alardeando ter "carta branca" de Eike e passou a confrontar os executivos que, segundo ele, não entregavam o resultado necessário.

Logo nos primeiros dias, decidiu afastar Marcelo Horcades Coutinho, um dos diretores da EBX. Em seguida, foi a vez do tunisiano Aziz Ben Ammar, diretor da holding e conselheiro das empresas abertas do grupo X. Ricardo e Aziz protagonizaram discussões ásperas e chegaram a trocar ofensas no Serrador.

Ammar renunciou aos cargos nos Conselhos, mas não se afastou completamente do grupo. Segundo fontes, segue em contato com Eike, mas sem a influência de antes.

CADEIRAS VAZIAS

De acordo com executivos do grupo, não é só no alto escalão que as mudanças são visíveis. É possível ver, por exemplo, cadeiras vazias nos diferentes andares do Serrador. A MPX, agora rebatizada de Eneva, foi a primeira empresa do grupo a anunciar que deixaria o prédio.

O mesmo deve ocorrer com a OSX, que já iniciou um processo amplo de demissões. A empresa, que chegou a ter mais de mil funcionários, tem hoje cerca de 650. Até o fim do mês, devem restar apenas 300, apurou a Folha.

Há tensão também em outras empresas do grupo.

Reuniões mensais antes conduzidas pelo presidente da MMX foram suspensas em julho, causando ansiedade aos funcionários, que torcem para vingar a negociação de Eike para a venda de uma fatia da empresa a um consórcio formado pela holandesa Trafigura e o fundo soberano de Abu Dhabi Mubadala, anunciada semana passada.

Hoje, o valor de mercado das empresas do grupo EBX que estão o Ibovespa são 13,2% do que eram à época das respectivas aberturas de capital. De R$ 53,2 bilhões, os papéis caíram a R$ 7 bilhões.

Ao mesmo tempo, Eike iniciou vendas do seu patrimônio para pagar dívidas e hoje tem posições expressivas só nas empresas que não conseguiu repassar para outros grupos, como OGX e OSX.

OGX

A pior situação é da petroleira do grupo, que viu seu valor de mercado despencar de R$ 41 bilhões, quando fez a oferta inicial de ações, para R$ 971 milhões em agosto.

Sem caixa, a companhia devolveu 9 dos 13 blocos comprados no último leilão da Agência Nacional do Petróleo e agora tenta vender sua participação no BS-4, no pré-sal da bacia de Santos.

Em um ano, perdeu 41% da sua força de trabalho e teve o número de membros do Conselho de Administração reduzidos de 12 a 5, em meio a renúncias e substituições.

A empresa ainda busca uma solução para sua dívida de mais de R$ 7 bilhões e segundo o seu presidente, Luiz Eduardo Carneiro, a recuperação judicial é uma das alternativas avaliadas.


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