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Dificuldade de pensar é uma consequência da pobreza

Estudo feito em Princeton e Harvard mostra que estar sem dinheiro afeta qualidade das decisões

A falta de dinheiro afeta o raciocínio. Pobres tomam decisões ruins e a situação piora ainda mais.

Essa é a conclusão de uma pesquisa de economistas e psicólogos das universidades de Princeton e de Harvard e que foi publicada na revista "Science" no fim de agosto.

O ponto central é que as preocupações orçamentárias deixam pouco espaço na cabeça para outras tarefas.

Os pesquisadores fazem uma metáfora com banda larga de conexão à web: se for tomada por uma atividade que usa muita capacidade, o computador fica lerdo.

Para testar a hipótese, eles fizeram dois estudos.

No primeiro, induziram americanos ricos e pobres a pensar sobre problemas financeiros. Em seguida, aplicaram testes de inteligência.

O experimento começava com a apresentação de um cenário. Por exemplo: "Seu carro tem problemas que exigem dinheiro para ser consertado. Você pode pagar tudo do seu bolso, pegar um empréstimo para isso ou então arriscar e não desembolsar".

A pessoa que estava respondendo o teste ouvia a formulação, mas não respondia.

Isso porque esses cenários só eram levantados para tentar despertar as preocupações econômicas nas cabeças dos respondentes.

Depois de ouvir os enunciados, os participantes faziam testes de inteligência, como identificar sequências de formas geométricas.

Quando o exemplo econômico do enunciado foi feito com pouco dinheiro, ricos e pobres tiveram desempenhos semelhantes. Nos casos de valores altos, pobres tiveram desempenho aquém de ricos.

A carga mental de ter que pensar em uma questão financeira delicada enquanto se faz um teste de inteligência implica perda de 13 pontos de QI --semelhante à diferença entre alcoolistas e pessoas saudáveis.

Mas o próprio artigo aponta que "esse estudo não tem relevância no mundo real". Por isso, a pesquisa complementar aborda a questão com um grupo distinto.

Fazendeiros de cana-de- -açúcar da Índia recebem uma vez por ano. Assim, eles têm um período de bonança (pós-colheita) e um de miséria (pré-colheita).

Esses indianos fizeram os testes de inteligência duas vezes; antes e depois de receberem dinheiro. Conclusão: "As diferenças de resultados [entre os testes] foram marcantes".

INTELIGÊNCIA

Ter problemas financeiros "afeta mesmo" a capacidade de tomar decisões, diz a comerciante F.G., 35, que frequenta reuniões dos Devedores Anônimos.

"Fiz cinco empréstimos no nome de uma outra pessoa, sem avisá-la", relata.

Ela diz, no entanto, que as sessões no grupo de devedores a ajudaram e, hoje, consegue compartimentar suas atividades. "Hoje consigo separar. Tenho dívidas, mas o que posso fazer agora? Nada. Então preciso me dedicar ao trabalho", relata.

Marcos Pimenta, analista do departamento de Educação Financeira do Banco Central, reforça o estudo.

Ele conta que sua tese de mestrado foi uma série de entrevistas com pessoas que estavam renegociando suas dívidas em feirões do Serasa.

"Se a situação financeira dá tranquilidade à pessoa, ela toma melhores decisões. Não é que a pessoa ficou mais inteligente; ela continua a mesma", diz.


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