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Entrevista - Luiz Carlos Mendonça de Barros

Passo a investir meu patrimônio na indústria

ex-presidente do bndes vai deixar o mercado financeiro e bancar parte da construção de fábrica de caminhões

EDUARDO SODRÉ EDITOR-ADJUNTO DE "VEÍCULOS"

Luiz Carlos Mendonça de Barros não ficou para o almoço. Após participar da apresentação do plano de negócios da Foton Aumark do Brasil, da qual é presidente, o empresário partiu para um outro compromisso --suas irmãs o esperavam em casa para uma tradicional reunião de família, feita três vezes por ano.

A saída repentina do evento mostra que o economista, que foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações, está realmente revendo suas prioridades de vida.

Ele irá deixar a ciranda financeira para dedicar-se exclusivamente à empresa chinesa de caminhões.

Aos 70 anos, Mendonça de Barros está bancando parte do investimento para a instalação da fábrica. Em entrevista à Folha, ele diz que virou empresário do setor industrial "por obra do acaso".

Folha - Após tanto tempo atuando no setor econômico público e privado, o que motivou o senhor a investir em uma fábrica de caminhões?
Luiz Carlos Mendonça de Barros - Em 1996, o BNDES financiou parte da obra da usina hidrelétrica de Três Gargantas, na China. Como presidente do banco, passei uma semana por lá e cheguei a discursar em um evento. Anos depois, a Foton resolveu investir no Brasil, e me procurou.

Quando o contato foi feito?
Recebi um telefonema da empresa em 2009. Eles tinham meu cartão dos tempos do BNDES, entrei em uma lista de "amigos da China". Foi algo fortuito, obra do acaso. Eles queriam alguém que pudesse ajudá-los na implementação do negócio e, pouco tempo depois, propuseram-me a sociedade. Pensei: "Não vou perder essa chance".

A fábrica estava nos planos desde o início?
Quando a relação começou a ser trabalhada, não havia sobretaxa de IPI nem Inovar-Auto. Em 2012, fomos à China para explicar as mudanças e a estratégia foi revista. Nós assumimos a construção da fábrica.

De onde veio o capital?
Estou trocando de ativo, passo a investir meu patrimônio nessa fábrica. Devo terminar minha carreira no mercado financeiro em 2014 e dedicar-me exclusivamente à Foton. Pretendo sair da sociedade na Quest Investimentos. Cabe aos chineses a parte de produtos e desenvolvimento tecnológico, que são os outros 50% do negócio.

É o momento certo para investir em veículos pesados?
Não enxergo os problemas de agora como uma crise, pois são característicos de países que tiveram um crescimento muito acelerado em um determinado período. O Brasil não chega a ser um foguete asiático, mas tampouco é um foguete em queda.

O que é mais difícil: presidir uma montadora chinesa de caminhões ou o BNDES?
Ainda não sei. Fui presidente do BNDES por quatro anos e estou começando agora com uma fabricante de caminhões. Mas, se me convidarem para retornar ao banco, eu volto.

Como está sendo sua adaptação a esse novo "idioma" falado nas linhas de montagem, que é bem diferente do "economês"?
Sou engenheiro de formação, embora nunca tenha atuado na área. Mas isso a gente nunca esquece. É evidente que não sei detalhes técnicos, o que vale é o modo de raciocínio.
Sei olhar um caminhão por dentro e entender o que tem lá. Mas minha função é muito mais estratégica. Se tem um problema bancário de crédito, eu atuo em busca de uma solução, por exemplo. Quem toca a operação no dia a dia é o Orlando [Merluzzi, vice-presidente da Foton Aumark do Brasil].

Será um complexo industrial?
Sim. A Cummins [fábrica de motores a diesel], por exemplo, estuda montar uma operação contígua à fábrica da Foton, bem como outros fornecedores. Temos um espaço muito grande disponível em Guaíba. Acredito que logo atingiremos o índice de nacionalização exigido para o Finame [Financiamento de Máquinas e Equipamentos].

A fábrica irá reaproximá-lo ou afastá-lo mais do cenário político brasileiro?
Já estou afastado disso, hoje a minha participação pública é como analista econômico, não tenho mais nenhuma proximidade com o "establishment" político.

Mas o cenário político é interessante para montar uma empresa?
Acho que sim. Cansei um pouco do mercado financeiro, e o BNDES me ensinou a lidar com as coisas práticas, como a indústria de caminhões. Estou com 70 anos, e o exemplo que me veio a cabeça quando resolvi apostar na indústria foi o do Roberto Marinho, que criou a TV Globo quando já tinha 66 anos.
Como a tecnologia médica evoluiu bastante, acho que a minha idade atual equivale a menos que a dele naquela época.


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