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Pimenta no mercado dos outros

Hungria tenta recuperar espaço no mercado mundial de páprica, em que hoje tem a concorrência de países como Brasil e China

DA REUTERS

Não muito tempo atrás, Peter Szabo deixou um emprego lucrativo em telecomunicações, no Reino Unido, vendeu sua propriedade e voltou a Batya, uma aldeia à beira-rio ao sul de Budapeste, para plantar pimenta vermelha.

Como alguns dos outros moradores da região, Szabo, 41, tem a esperança de recolocar no mapa o um dia próspero setor húngaro de páprica, depois de décadas de negligência e apesar da feroz competição de países como Brasil, Sérvia e China.

Szabo está seguindo as pegadas de seu pai e avô --também produtores de páprica, um condimento em pó que há muito é ingrediente básico da culinária húngara."Quero garantir que as pessoas continuem a comer páprica húngara", disse.

"Estou apostando minha vida nisso: comida orgânica limpa, sem conservantes." Ainda que em pequena escala, ele já conquistou algum sucesso. Vende páprica a alguns dos melhores restaurantes húngaros e começou a vender a clientes no exterior.

Mas a situação é muito diferente da que existia na era comunista, quando todas as famílias em Batya tinham uma plantação de páprica e algumas chegavam a ter 50 hectares, ante os dois hectares plantados por Szabo.

Nessa época do ano, guirlandas de pimenta em processo de secagem pendiam de todos os telhados, mas a concorrência reduziu os preços e os agricultores decidiram buscar empregos mais bem pagos em outros ramos.

Szabo investiu tudo que tem na compra de máquinas especializadas e usa um marketing metódico, buscando gastrônomos que apreciam a comida orgânica e se dispõem a pagar mais por esse tipo de ingrediente.

A qualidade é a única maneira de sobreviver, ele diz.

Dois terços de seus clientes voltam a comprar dele após experimentar o produto. Entre eles estão chefs de alguns dos principais restaurantes da Hungria, mas também compradores comuns. Alguns destes viajam horas de carro para comprar o produto diretamente.

COMO VINHO

A técnica especializada de Szabo pode ser comparada à de um vinicultor.

"É preciso permitir que as pimentas amadureçam sem colhê-las, e colhê-las só na hora certa", diz o produtor. "Depois remover os talos manualmente, e secá-las devagar, em calor muito brando. Depois de 20 a 30 dias, o açúcar que elas contém se carameliza e se torna um agente colorante vermelho."

Se as pimentas receberem a quantidade exata de sol, a temperatura certa e forem cuidadas devidamente, a safra é boa. Cerca de 20 gramas de páprica bastam para temperar um quilo de carne e tingi-la de um vermelho vivo.

O ano passado foi quente demais e a páprica da época foi medíocre, diz Szabo.

A safra deste ano está quase ideal. Um dos poucos agricultores locais que ainda cultivam páprica é Zsolt Matos, policial em Batya.

Ele também diz que qualidade é a única arma que os agricultores têm contra a páprica importada barata.

"Por sorte os húngaros estão lentamente começando a se preocupar com qualidade", ele disse.

"Se você usa páprica fina, o sabor e a cor são mais intensos, e se difundem mais na comida. É como a diferença entre um vinho medíocre e um bom vinho. Você a reconhece na hora."


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