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Vinicius Torres Freire

Até 2015

Leilões e privatizações não serviram de sinal forte de mudança de tempos e ares na economia

OS LEILÕES de setembro e deste outubro poderiam ter mudado ares e ânimos na economia brasileira. Não seria grande coisa, nem de longe salvação da lavoura, mas talvez uma regada na hortinha.

A nota isolada de um "sucesso" na privatização de rodovias e no leilão do pré-sal não abafaria quase três anos de acordes desafinados. Mas, no mínimo do mínimo, os leilões seriam um termômetro da disposição do governo de afinar suas políticas. O termômetro marcou no máximo morno.

Fracasso mesmo não houve. A mera disposição de inventar e implementar, mesmo com atraso de um ano, um plano de indução de investimento privado em infraestrutura significou mudança importante.

Os tropeços graves no planejamento e implementação do programa, porém, revelaram ou confirmaram sabidas deficiências técnicas, a tendência ao improviso e o estatismo em lugar errado --o governo quer privatizar, sim, mas sem perder a ternura por intervenções equivocadas.

Todos esses vícios encrencaram e adiaram "sine die" o leilão das ferrovias, em termos logísticos o mais importante. A reorganização dos portos está metida em ampla encrenca, política e técnica. A privatização das rodovias por ora vai ficando pela metade do que se planejava.

A ansiedade do governo de ver algo dar certo, seu descrédito em parte do setor privado, seu histórico conflituoso, seu enfraquecimento político e reveses vários na economia animaram também a oposição reivindicante das empresas e aumentaram o poder de barganha privado. Enfim, o meio de campo enrolou. Ou não desenrolou.

Não adiantou que a disposição de privatizar investimentos em infraestrutura ocorresse mais ou menos ao mesmo tempo em que o governo timidamente se rendia pelo menos à evidência de escassez de meios para continuar no mesmo caminho de política econômica.

Esgotaram-se os meios para aumentar o ritmo de crescimento do crédito nos bancos públicos, de gasto em programa social, de "gasto" em redução de impostos para empresas. O governo rendeu-se a necessidade da alta de juros. Dá tratos à bola para resolver os efeitos negativos acumulados de controles diretos e indiretos de preços (como o da gasolina).

O ímpeto da "nova matriz econômica" desenvolvimentista no mínimo arrefeceu. Não, o governo não jogou a toalha, vide a defesa que Dilma fez do modelo de exploração do pré-sal. Mas mudou de tom, tanto por precisão como por boniteza: por falta de meios e para assinar um armistício com partes do setor privado e da "economia ortodoxa".

O governo mudou um tico, mas não deu o braço a torcer. Velhos defeitos prejudicaram um momento importante da transição, os leilões. Não insistiu a fundo (até o fundo) na sua política macroeconômica, mas pelo menos até a eleição não fará ajustes relevantes. Continua a quase ignorar a necessidade de reformas institucionais para azeitar a economia e a administração pública.

Haverá um pouco mais de investimento, decerto. Talvez saia alguma reforma do ICMS. Mas perdeu-se a última oportunidade para dar uma balançada mais forte na política econômica e na economia; para criar um programa de mudanças de médio ou longo prazo. Ficou quase tudo mesmo para 2015. Se tanto.

vinit@uol.com.br


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