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Credores querem quadros de ex-banqueiro

Suspeita é que compra e venda das obras tenham sido simuladas por companhia panamenha para retirá-las do país

Ex-dono do Banco Santos nega fraude e diz que operações foram legais e acompanhadas pelo Banco Central

JULIO WIZIACK DE SÃO PAULO

"Tudo foi feito dentro da legalidade e o Banco Central foi devidamente informadoEdemar Cid Ferreiraex-dono do Banco Santos, que sofreu intervenção do Banco Central em 2004

Os credores do Banco Santos pediram à Justiça brasileira que sequestre no exterior pelo menos 29 obras de arte supostamente desviadas pelo ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira pouco após a intervenção do banco, em 2004.

Eles também solicitaram a extensão da falência do banco às empresas Wailea e Bokara, donas da coleção do ex-banqueiro, e da Broadening-Info, companhia panamenha que, dizem, foi usada para simular compra e venda das peças só para retirá-las do país.

O pedido é baseado em uma investigação que ocorreu sob segredo de Justiça nos EUA, nas Ilhas Virgens Britânicas, em Bahamas e no Reino Unido, em que foram apreendidos documentos em galerias, seguradoras, casas de leilão e prestadores de serviço, após autorização judicial.

Os credores querem as peças de volta para que sejam leiloadas e, assim, recebam seus pagamentos. Também pedem que recursos em contas das empresas Wailea, Bokara e Broadening sejam bloqueados em seu favor.

Na ação que corre na Justiça brasileira, eles afirmam que essas empresas foram abastecidas com dinheiro desviado do Banco Santos em operações de crédito simuladas para, depois, retornarem ao Brasil como investimento em empresas controladas por Edemar ou por sua mulher, na compra de obras da coleção de arte de Edemar e na construção da casa, na rua Gália, em São Paulo. O pedido aguarda decisão do juiz.

Há fax, troca de e-mails, apólices de seguros, faturas de pagamentos e cópias de depósitos que, segundo o síndico da massa falida, Vânio Aguiar, comprovam que a Broadening foi usada por Edemar para simular compra e venda das obras de sua coleção em benefício próprio.

Em entrevista à Folha, Edemar Cid Ferreira negou as acusações e se disse vítima de uma "estratégia criminosa". "Tudo foi feito dentro da legalidade, e o Banco Central foi devidamente informado."

Mas, no processo que corre na 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo desde junho deste ano, os investigadores contratados pelos credores afirmam que, mesmo após a venda no exterior, os titulares das peças continuaram sendo Edemar Cid Ferreira e sua mulher, Márcia, casados com separação total de bens.

O seguro de boa parte das obras continuou em nome de Márcia até o fim de 2006, quando elas foram vendidas pela Broadening para colecionadores na França, na Suíça, no Reino Unido e na Holanda.

As faturas de pagamento também foram enviadas para a mulher de Edemar, ainda segundo os investigadores. No final de 2006, a seguradora Rockwell enviou comunicado de que as apólices estavam vencendo.

Logo depois, as peças foram vendidas e levadas para a Europa, onde ficaram armazenadas entre 2004 e 2005. Seguiram para os EUA quando a Broadening começou a negociá-las. A galeria Barral Fine Arts foi a principal envolvida.

CONTRATEMPO

No transporte de avião do Brasil para a Suíça, em 2004, a obra "Dos Figures", de Rufino Tamayo, foi danificada. Os documentos obtidos revelam que a empresa da mulher de Edemar recebeu US$ 500 mil da seguradora. O pagamento foi realizado em 2005.

À Justiça americana a Broadening disse ser a proprietária das peças, mas, nas notas, constavam valores de cerca de US$ 100, e as peças descritas eram diferentes.

A companhia panamenha explicou que tinha um contrato de compra e venda com a Bokara, empresa de Edemar e Márcia, mas que não declarou o valor de mercado por causa do seguro elevado.

Além disso, afirmou que só estava fazendo o transporte e pagaria o imposto devido quando as peças fossem definitivamente vendidas, o que aconteceu dois anos depois.

Além de quadros e esculturas, 45 fotografias da coleção de Edemar foram vendidas por € 203 mil. O quadro "Hannibal", de Jean Basquiat, e a escultura "Mulher Sentada", de Henry Moore, com seguros de US$ 1 milhão cada um à época, hoje estão avaliados em US$ 8 milhões e US$ 3 milhões, respectivamente. Somadas, as apólices das 29 peças, na época, chegaram a US$ 12,5 milhões.


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