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Opinião
Acordo em Bali seria prêmio triplo para indústria do país
Bali pode ser o primeiro caso de sucesso do multilateralismo comercial no contexto da nova economia política internacional
A Reunião Ministerial da OMC (Organização Mundial do Comércio) que ocorrerá na próxima semana em Bali será um marco por três razões.
Primeiro, porque há a possibilidade de os países-membros acordarem um pacote de novas regras para o comércio internacional, fato inédito desde a criação da organização, há 19 anos.
Segundo, porque é a primeira tentativa de se avançar a negociação da Rodada Doha, lançada em 2001 e paralisada desde 2008, quando o início da Grande Recessão sustou qualquer possibilidade de promover a liberalização do comércio.
Terceiro, porque, se for bem-sucedida, representará o primeiro caso de sucesso do multilateralismo comercial no contexto da nova economia política internacional.
Os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), agora todos membros da OMC, representam alternativa de poder à aliança transatlântica entre os Estados Unidos e a União Europeia.
E com maior potência do que o G20 Agrícola, criado pelo Brasil e a Índia durante a Ministerial de Cancún (México), em 2003.
Para a indústria brasileira, que acompanha de forma atenta e ativa a negociação, um acordo fechado em Bali terá triplo valor.
O primeiro é direto: o pacote deve incluir um novo Acordo sobre Facilitação de Comércio, que aumentará a eficiência da aduana brasileira e, ao mesmo tempo, reduzirá barreiras às exportações industriais do Brasil.
O segundo é indireto: o pacote deve, também, incluir novas regras sobre cotas na área agrícola, que ampliarão o acesso do agronegócio brasileiro a seus mercados de exportação, incrementando a demanda da indústria que faz parte dessa cadeia de valor.
O terceiro é sistêmico: o acordo de Bali pode destravar a agenda da OMC, tanto para a retomada da negociação dos demais temas da Rodada Doha quanto para a inclusão de novos.
Há, contudo, dois riscos.
De um lado, a reunião ministerial pode ser mais uma vítima do embate entre Estados Unidos e Índia, que quase impediu o lançamento da Rodada Doha e a paralisou as conversações em 2008.
De outro lado, um acordo em Bali não pode incluir um "cheque em branco" para o protecionismo agrícola asiático, como quer a Índia ao exigir uma "cláusula de paz infinita" para proteger sua lei de segurança alimentar.
Para o Brasil, interessa utilizar os Brics como plataforma de poder.
No entanto, no espaço da OMC o interesse comercial brasileiro, que é mais alinhado ao Ocidente do que à Ásia, tem que prevalecer sobre quaisquer objetivos de política externa. Afinal, o Estado brasileiro não gera riqueza. Quem o faz --e paga a conta-- é o setor produtivo.