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Análise economia global

Emergentes pagam por desvios do capitalismo

Investidores fugiram nos últimos anos de países como Brasil e China, em que há muitas empresas sob controle estatal

Avaliar riscos políticos é difícil para os mercados. Eles são ruins nisso. é preciso agora questionar o triunfo da globalização e do capitalismo

JOHN AUTHERS DO "FINANCIAL TIMES"

A história, ao que parece, recomeçou. Em 1990, depois da queda do Muro de Berlim, Francis Fukuyama ganhou fama ao prognosticar que estávamos testemunhando não só o fim da Guerra Fria mas "o fim da história como tal".

Agora parece prematuro declarar até mesmo o fim da Guerra Fria, quanto mais da história. O diálogo entre EUA e Rússia nas últimas semanas evoca dolorosamente uma era que muita gente imaginava encerrada 30 anos atrás.

Mas a história não recomeçou subitamente nas últimas semanas. Há alguns anos vem crescendo a preocupação de que a nossa "evolução ideológica" esteja ainda longe de completa e que ideologias muito diferentes da democracia liberal do Ocidente continuem a prosperar. Foi isso que os mercados disseram.

O ânimo dos investidores com relação aos emergentes esfriou três anos atrás e continua a piorar. Há muitas causas para isso, mas uma delas tende a ser omitida: o fato de que os investidores estão alarmados diante dos desvios em curso quanto ao modelo do capitalismo ocidental.

John-Paul Smith, diretor do Deutsche Bank, dividiu as ações que compõem o índice MSCI de mercados emergentes entre as de empresas estatais e as de privadas.

De setembro de 2011 em diante, as ações das empresas privadas mantiveram quase completamente seu valor, registrando queda de 2%. Já as ações das estatais caíram 12% no período.

Além disso, os países com maior número de grandes companhias sob controle estatal mostram as maiores quedas. Eles incluem a China (onde o Estado controla 78% das grandes companhias de capital aberto), o Brasil (30%) e a Rússia (55%).

A inquietação dos investidores vai bem além da Rússia. Veja o caso da Turquia, que está revertendo atitudes ocidentais básicas quanto à liberdade de expressão ao bloquear YouTube e Twitter. No Brasil, as ações de companhias estatais são vendidas 10% abaixo de seu valor patrimonial; as de outras empresas são vendidas por três vezes o seu valor contábil.

Um corolário da impopularidade das estatais é que o dinheiro estrangeiro é injetado em quaisquer outras oportunidades que se apresentem --o que resulta em avaliações exageradas para outras companhias. Na Rússia, alguns grupos de varejo, não estatais, têm ações cotadas a 900% de seu valor contábil.

Especialmente desde a crise de 2008, há fortes razões para que os eleitorados dos países emergentes deem as costas ao modelo ocidental.

Os russos se sentem indignados com a maneira pela qual as joias da coroa do patrimônio do Estado foram privatizadas nos anos 90, criando uma geração de oligarcas.

Será que o recuo a uma era de duas ideologias e o fim da globalização são inevitáveis? Não. Marcus Svedberg, da East Capital, que investe na Rússia, sugere que "a Rússia é rica demais para tolerar má governança empresarial por muito mais tempo".

Com as classes médias dos emergentes enriquecidas e mais influentes, uma dinâmica ao modo proposto por Fukuyama, em direção a um capitalismo controlado por acionistas, seria difícil de reprimir.

Mas não podemos tomá-la como dado, da forma que muitos investidores fizeram na era em que a história parecia ter acabado.

A alta do mercado nos anos 1990 pode ser vista como reação ao "dividendo da paz" propiciado pela queda do Muro de Berlim. O dividendo foi superestimado, e os mercados subiram mais que deveriam.

Agora, os investidores precisam questionar se é hora de restituir parte do "dividendo de paz" que receberam. As sanções propostas contra a Rússia envolvem um recuo da globalização, de uma maneira que prejudicará a todos.

Há, é claro, justificativas potenciais para as sanções. Esse é um debate separado.

Avaliar riscos políticos é difícil para os mercados. Eles são ruins nisso e podem ter reagido de maneira exagerada nos países emergentes. Mas a necessidade agora é questionar o triunfo da globalização e do capitalismo. Os investidores em mercados emergentes já começaram a fazê-lo.


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