Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mercado

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Vinicius Torres Freire

A inflação de Lula, a inflação de Dilma

Taxa de inflação nos dois governos indica que carestia por si só não explica desditas da presidente

É MAIS complicada do que parece a explicação da onda de mau humor popular com a inflação. Não é nada simples ou imediato, portanto, atribuir a perda de popularidade da presidente à carestia apenas. Aliás, ainda é um mistério a reviravolta súbita no prestígio de Dilma Rousseff em 2013, reduzido à metade em poucos dias dos protestos de junho. Mas comecemos pelas complexidades mais simples.

Qual a diferença entre as inflações de Lula e Dilma?

A inflação acumulada nos anos de Lula 1 foi pouco maior que 28%. Ao final dos anos de Dilma, deve chegar perto disso, a uns 27%. Fim da semelhança.

Lula assumiu em meio a um tumulto econômico grave, lidou com a pior inflação desde o Real. O país estava meio quebrado, sem crédito e houvera uma terrível desvalorização (o dólar chegou a R$ 4). No primeiro semestre de 2003, o IPCA chegaria a 17% ao ano.

Mesmo assim, a expectativa popular de inflação despencava para a metade do que o Datafolha registrara nos piores anos de FHC, entre 1999 e 2001. No primeiro semestre do governo Lula, cerca de 36% dos eleitores acreditavam que a inflação aumentaria, ante 65% de agora, sob Dilma e com inflação na casa de 6%.

Sob Lula 2, os preços aumentaram em média 17,6% até março do último ano do seu segundo mandato. Até março deste ano, sob Dilma, subiram 22%. Um tanto mais salgado. A inflação de alimentos e bebidas nos dois períodos, de Lula 2 e Dilma, foi praticamente a mesma e alta, em torno de 32%. Sob Lula 1, o preço da comida subira apenas 15%.

Essa numeralha dos índices de inflação não parece dizer grande coisa, em si mesma.

As pesquisas do Datafolha a respeito de expectativas mostram, repita-se, que havia grande otimismo com Lula. Além do mais, a renda subiria mais rápido do que nos anos Dilma. O desemprego cairia do patamar pavoroso de 12% para ainda horríveis 9%. Na verdade, havia alívio porque se tiravam bodes, camelos e elefantes da sala, ainda que revoassem os urubus do mensalão.

O segundo mandato de Lula seria o do "espetáculo do crescimento", que não foi empanado nem pela recessão de 2009. O desemprego diminuiria mais rápido que no primeiro mandato. Seria também rápido o aumento do salário mínimo, determinante da melhoria de renda da massa trabalhadora ou aposentada pobre.

A animação econômica popular foi em geral crescente ao longo dos anos Lula. Dilma assumiu em meio à euforia, mas as expectativas ficaram cada vez mais diminuídas em seu governo de aumentos menores do salário mínimo. O consumo passou a crescer mais devagar. Ainda assim, o desemprego é o menor em pelo menos 35 anos, por aí.

A inflação algo maior que a de Lula 2 combinada a aumentos menores do salário mínimo fez alguma diferença. A desaceleração geral das melhorias econômicas pode ter outra parte no estrago. O clima ruim na elite econômica não deve ter ajudado, assim como a vida piorada nas cidades, onde a infraestrutura não acompanhou a demanda e a renda. Mais misterioso, algo se quebrou em junho de 2013, quando o povo descobriu que era um tanto infeliz e não sabia. A economia conta parte da história dos infortúnios de Dilma. Talvez parte menor.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página