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Entrevista - Marcelo Castilho

Petrobras tem sido tímida demais em relação à China

Para representante da estatal no país, empresa está ocupada com seus problemas e não tem uma grande estratégia de venda

MARCELO NINIO DE PEQUIM

Quando chegou a Pequim para chefiar a recém-inaugurada representação da Petrobras na China, em 2004, a vista que Marcelo Castilho tinha de seu escritório era de um grande "hutong", o tradicional casario antigo chinês.

Dez anos depois, a paisagem é dominada por arranha-céus e Castilho passa por lojas da Louis Vuitton, da Prada e todas as grandes marcas de luxo para chegar ao seu escritório.

O ritmo acelerado da economia chinesa foi acompanhado de uma escalada nas vendas da Petrobras para o país, hoje o maior cliente da empresa --de 5%, em 2004, para 45% das exportações.

Agora a China oferece novas oportunidades, com a perspectiva de abertura de seu mercado interno de petróleo, mas a Petrobras não está pronta para aproveitá-las, afirma Castilho.

"Certamente a China não está entre as prioridades de investimento da Petrobras", lamenta.

Engenheiro químico com mais de 40 anos no setor de petróleo, dos quais 19 deles no exterior, Castilho está prestes a voltar ao Brasil com uma experiência de vida e negócios na China que pouquíssimos brasileiros têm.

Leia os principais trechos da entrevista.

Folha - A desaceleração da economia chinesa pode causar perdas para a Petrobras?
Marcelo Castilho - Houve uma redução nas vendas da Petrobras nesses dois últimos anos. Mas eu atribuo isso muito mais a uma competição maior com a África por preços do que à queda no consumo chinês. As estatísticas de refino e de demanda interna não são compatíveis com uma desaceleração econômica. Eu ouço falar que até 2020 a China vai passar os EUA em estradas pavimentadas. Esse segmento de mercado, asfalto, coque e óleo combustível é onde a Petrobras atua.
Em 2012, nós vendemos US$ 4,3 bilhões para a China. Em 2013, esse número caiu para US$ 2,8 bilhões e, neste ano, não devemos chegar a US$ 2 bilhões, resultado da competição de preços.

Qual a estratégia?
A Petrobras tem sido tímida demais. A China tem sido muito mais agressiva, colocou o Brasil como meta de investimento na área de petróleo e está seguindo o plano. Nós poderíamos ter avançado para a parte de refino. Tivemos oportunidades, mas não foi considerado estratégico pela empresa. Algumas refinarias da China estão processando 100% petróleo brasileiro. Elas convidaram a Petrobras para ser um sócio estratégico. Seria uma chance de dar um passo à frente na cadeia. Além de fornecer petróleo, participar dos resultados dos produtos.
Mas a Petrobras está ocupada com seus problemas e voltada para a produção interna. A China certamente não está entre as prioridades de investimento da empresa. Eu acho que deveria estar.
A China é o primeiro lugar de nossas vendas por uma questão de mercado. Temos o petróleo adequado e de qualidade e o consumo da China continua crescendo.
A Petrobras não tem uma grande estratégia de venda, e não é só para a China, não. Com uma estratégia, o mercado cresceria, mas para isso também é preciso a produção aumentar. O petróleo nós temos, em algum momento ele vai ser produzido e o Brasil não vai conseguir consumir tudo, vai haver exportação. Forçosamente a Petrobras terá que rever sua estratégia de vendas.

O que as reformas do governo chinês significam para o mercado de petróleo?
A China está caminhando para uma abertura gradativa do mercado de petróleo, com mais companhias sendo permitidas a atuar no país. Hoje há uma limitação forte à importação de petróleo e eu vejo isso sendo um pouco afrouxada.
Refinadores que não têm acesso à importação de petróleo, controlada pelas estatais, poderão participar da importação, não necessariamente por meio das grandes empresas chinesas.
Já venho falando há muito tempo que a gente precisa olhar com carinho a possibilidade de armazenar petróleo na China (tancagem). Os refinadores menores reclamam porque estão pagando preços absurdamente mais altos do que poderiam se pudessem ir ao mercado, então tudo isso está fazendo uma pressão sobre o governo para abrir.
Deveríamos nos preparar para isso. Quando abrir pode ser tarde. Todas as nossas concorrentes já estão prontas. Pode ser que chegue a hora e não haja mais espaço para a Petrobras.


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