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Economistas analisam impacto de críticas ao livro de Piketty

James Galbraith diz que estudos confirmam alta de desigualdade

RICARDO MIOTO DE SÃO PAULO

Após o jornal britânico "Financial Times" apontar incorreções no livro "O Capital no Século 21", inesperado best-seller sobre desigualdade do economista francês Thomas Piketty, especialistas estão tentando entender o quão prejudicada fica a obra.

No "New York Times", o prêmio Nobel Paul Krugman afirma que o "FT" errou a mão. Segundo ele, "não pode estar certo" dizer que a desigualdade na verdade não está crescendo na Europa e nos EUA, como fez o jornal ao reanalisar os dados de Piketty.

Tal conclusão seria "um indicador forte de que estão fazendo algo errado". Dados de várias origens mostram uma maior concentração de riqueza nas últimas décadas, diz. "E são estudos com métodos completamente diferentes."

Ele afirma ainda que o aumento do patrimônio dos ricos é até uma consequência lógica do aumento da sua renda nas últimas décadas. "A não ser que os ricos estejam poupando menos que os trabalhadores", escreve.

RENDA

Esse aumento da renda dos ricos não foi questionado em nenhum momento pelo "FT". Ou seja, as críticas se referem apenas aos dados de desigualdade de patrimônio (de bens, aplicações), concentradas no capítulo 10.

Isso faz com que Justin Wolfers, da Universidade de Michigan, aponte, também no "New York Times", que seria exagerado condenar todo o livro neste momento.

Wolfers e Krugman, porém, concordam que o economista francês precisa se explicar sobre alguns pontos.

Piketty ainda não deu uma resposta satisfatória, por exemplo, ao erro mais importante apontado pelo "FT". Trata-se de um dado sobre o Reino Unido. Piketty estima que 10% dos britânicos têm 71% da riqueza nacional, mas o governo do país fala em 44%.

Piketty disse apenas que os dados públicos são "de péssima qualidade". No britânico "The Guardian", o jornalista Paul Mason escreveu que os ricos subestimam seu patrimônio nas declarações, estragando os dados consolidados.

Piketty ainda precisa apontar, diz Krugman, que critérios adotou ao ajustar os dados. Para o "FT", ele parece ter tomado algumas decisões aleatórias, como somar pontos percentuais em números que considerava subestimados.

CAUTELA

Outros economistas importantes também escreveram nos últimos dias sobre o tema.

James Galbraith, da Universidade do Texas, escreveu ser necessário lembrar que estudos econômicos sobre desigualdade são feitos "em longas horas de trabalho sobre dados incompletos e ambíguos". Ele afirma que um trabalho independente conduzido por ele mostra que, sim, a desigualdade tem aumentado desde a década de 1960.

Branko Milanovic, ex-diretor de pesquisa do Banco Mundial, escreveu na "Business Insider" que já era sabido que os dados são incertos, o que torna ajustes naturais. "Cada lugar tem uma definição de riqueza, bens diferentes, preços diferentes." Sobre os erros factuais, afirmou que pequenas falhas são normais ao transcrever centenas de dados.

Já Martin Feldstein, professor de Harvard, disse que os dados de Piketty se mostram frágeis. As estimativas sobre concentração de renda nos EUA estão exageradas, pois subestimam as transferências de renda, como aposentadorias e programas sociais.


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