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Análise - Dívida argentina

Após muito drama, acordo será fim provável

Politicamente, é importante para Cristina não se mostrar sucumbindo à "extorsão", mas calote não deve acontecer

JOHN PAUL RATHBONE DO "FINANCIAL TIMES"

Vários anos atrás, quando a Argentina ainda era vista como uma grande economia e ainda não havia sedimentado a sua reputação de dar calotes em série, um antigo embaixador dos EUA em Buenos Aires escreveu algo que ajuda a entender o país.

"Muitos argentinos", escreveu James Bruce em 1953, "consideram que as regras são uma tentativa de intimidá-los". Um exemplo dessa picardia poderia ser o infame gol de Diego Maradona com a "mão de Deus" contra a Inglaterra na Copa de 1986.

A mesma picardia esteve em plena exibição nesta terça (17). Axel Kicillof, o ministro da Economia, disse que o governo planejava que seus títulos da dívida trocassem a lei nova-iorquina pela lei argentina --e isso seria a forma de evitar um novo calote.

Esse plano, que leva a restruturação da dívida a um território desconhecido, é uma resposta a uma decisão da Justiça americana.

Ela determinou que, conforme a lei dos EUA, se a Argentina pagar os credores que aderiram à renegociação da sua dívida após o calote de US$ 81 bilhões em 2001, ela deve pagar também os credores que não aderiram --e Buenos Aires não quer fazer isso.

Como quase US$ 1 bilhão vence em 30 de junho, a Argentina está em um beco sem saída. O problema, do ponto de vista de Buenos Aires, é como pagar apenas os "renegociados", mas não os outros, liderados pelo fundo NML.

Como as regras americanas não permitem isso, uma solução seria não pagar ninguém. Mas isso significaria outro calote, algo que a Argentina não quer. Um novo calote, a Argentina sabe, acabaria com a tentativa do país de reconstruir suas relações com os mercados internacionais. Iria ser péssimo para os investimentos, jogando a economia em uma forte recessão.

A maioria dos credores provavelmente não aceitaria a proposta de trocar a legislação chata dos EUA pela lei argentina. A proposta do ministro Kicillof, porém, é uma provocação ao fundo NML. Ele está dizendo: nós estamos dispostos a não pagá-los. Tendo isso em mente, o que vamos fazer para resolver a situação?

É verdade que, no campo político, a presidente Kirchner prometeu que nunca sucumbiria à "extorsão" dos credores que não renegociaram suas dívidas anteriormente. Ela chama esses credores de "fundos abutres".

Neste ano, porém, a Argentina já acertou uma reestruturação de US$ 10 bilhões com o Clube de Paris (grupo de 19 países desenvolvidos), e os termos não foram particularmente favoráveis ao país.

Na disputa com os credores não renegociados, o caminho para a Argentina também será procurar se entender com o NML. Um acordo parece ser o fim mais provável, mas haverá muito drama até lá.


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